Título: VENEZUELA DÁ NOVA CARA A NÃO-ALINHADOS
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Fonte: O Globo, 15/09/2006, O Mundo, p. 34

Fidel revela em entrevista que pela primeira vez teve medo de morrer

HAVANA. A Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados (MPNA) começa hoje em Havana com a tentativa dos governos de Cuba e da Venezuela de darem uma nova roupagem ao grupo, criado na Guerra Fria mas que perdeu força após a queda do Muro de Berlim. O evento promete também ser marcado pela primeira aparição pública do presidente Fidel Castro desde que entregou o poder para ser submetido a uma cirurgia, no dia 31 de julho. Segundo diplomatas, a expectativa é que Fidel receba os chefes de Estado que participam do encontro para um jantar.

¿ O fato de terem divulgado fotos dele (Fidel) ontem aumenta as chances de que faça uma aparição em grande estilo hoje. Seria o momento apropriado, pois tudo indica que esteja se recuperando ¿ disse um diplomata latino-americano.

¿É preciso levar em conta que a máquina tem 80 anos¿

A foto foi divulgada pelo jornal argentino ¿Página 12¿, que publicou ontem a primeira entrevista com Fidel desde sua internação. Na reportagem, o presidente cubano diz que já recuperou parte dos 18 quilos que perdeu com a doença e que já consegue ficar de pé. As fotos foram feitas durante a entrevista com o deputado e intelectual argentino Miguel Bonasso e mostram Fidel de pijama, conversando animadamente.

¿ Pela primeira vez, tive medo de morrer subitamente. Mas agora estou melhor. No entanto, trata-se de uma recuperação lenta pois é preciso levar em conta que esta máquina aqui já tem 80 anos ¿ disse o presidente.

Fidel também falou na entrevista da importância da cúpula que acontece em Havana:

¿ É um evento de extrema importância e mostra a disposição de muitos países de enfrentar o imperialismo americano ¿ disse ele, que organizou o encontro antes de entregar o poder.

O MPNA surgiu há 45 anos como alternativa ao mundo bipolarizado na época pelas duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética. Desde o fim do bloco socialista europeu, no entanto, o movimento se enfraqueceu e perdeu adesões. Segundo analistas, o objetivo da cúpula, que reúne 116 países, é relançar o movimento, mas agora com um caráter antiamericano.

¿ Cuba e Venezuela procuram apoio internacional para o papel que exercem de oposição aos Estados Unidos. É por isso que os diplomatas dos dois países vão tentar estreitar ainda mais seus laços com Irã, Síria e Coréia do Norte ¿ disse outro diplomata latino-americano.

Presidente do Irã está em Havana para o encontro

Entre os chefes de Estado que estão em Havana para a cúpula estão os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. O Brasil participa apenas como observador.

¿ Queremos dar um rosto novo para o movimento, que é de grande importância para fazermos frente ao imperialismo dos Estados Unidos nos quatro cantos do mundo ¿ disse Hugo Chávez.

Ontem, durante um evento para receber os chefes de Estado que estão em Havana, o presidente interino de Cuba, Raúl Castro, fez sua primeira aparição pública desde que assumiu o poder.