Título: PETISTA PRESO COM R$1,7 MILHÃO
Autor: Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 16/09/2006, O País, p. 3

Segundo a PF, ele ia comprar suposto dossiê de Vedoin, da máfia dos sanguessugas, contra Serra

APolícia Federal prendeu ontem, num motel em Cuiabá, o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa Planam e principal operador da máfia das ambulâncias. Desta vez, ele teve a prisão preventiva decretada pela acusação de ter negociado documentos que supostamente comprometeriam candidatos tucanos. Além de Vedoin, a PF prendeu em São Paulo dois homens, um deles filiado ao PT e o outro ligado ao partido. Com eles foram apreendidos R$1,7 milhão em dinheiro vivo.

Os presos são Valdebran Carlos Padilha da Silva ¿ sócio da construtora Saneng e arrecadador da campanha derrotada do petista Alexandre César a prefeito de Cuiabá em 2004 e também ligado ao deputado federal Carlos Abicalil (PT) ¿ e o advogado Gedimar Pereira Passos.

Valdebran e o advogado foram flagrados no hotel Íbis, em São Paulo, perto do Aeroporto de Congonhas, com mais de R$1,7 milhão em reais e dólares. Valdebran tentava comprar um dossiê que, segundo a PF, seria contra o ex-ministro da Saúde e candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, José Serra, e o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. Valdebran tem influência no PT de Mato Grosso, tanto que ajudou na nomeação do atual coordenador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no estado, Evandro Vitório.

Pasta custaria R$2 milhões

Segundo o superintendente em exercício da PF em Mato Grosso, delegado Geraldo Pereira, Vedoin cobrou R$2 milhões por uma pasta contendo supostos documentos contra os tucanos. Ainda de acordo com o delegado, o empresário combinou enviar os papéis e um vídeo por seu tio Paulo Roberto Trevisan, que trabalha com ele há três anos na Planam.

Com base em escutas telefônicas, a PF descobriu que Trevisan embarcaria na noite de quinta-feira para São Paulo com os documentos, que deveriam ser entregues a dois homens no Aeroporto de Congonhas. Estes homens seriam Valdebran e Gedimar. Antes do embarque, Trevisan foi abordado por agentes federais no Aeroporto de Várzea Grande, perto de Cuiabá. Levado para a Superintendência da PF em Cuiabá, ele afirmou que recebeu de seu sobrinho Luiz Antônio Vedoin a incumbência de levar o material para São Paulo.

¿ Ele foi ouvido e liberado. Disse apenas que iria fazer um favor ao sobrinho ¿ explicou o delegado.

A pasta que Trevisan carregava continha seis fotografias e um DVD. O vídeo, de 23 minutos, contém imagens de uma solenidade ocorrida em junho de 2001 em Cuiabá, quando o Ministério da Saúde fez a entrega de 40 ambulâncias vendidas pela Planam por meio de emendas parlamentares da bancada de Mato Grosso. Nele, Serra aparece ao lado de deputados federais incriminados pela CPI dos Sanguessugas, como Lino Rossi (PP-MT) e Pedro Henry (PP-MT).

Duas das seis fotografias mostram Alckmin conversando com o empresário Sinomar Camargo, dono da empresa Delta Veículos Especiais, com sede em Curitiba (PR). Dono de dois CPFs e respondendo a outros quatro inquéritos na Polícia, Sinomar teve a prisão preventiva decretada no início da Operação Sanguessuga. Contra ele pesa a acusação de atuar em conjunto com Vedoin nas fraudes em licitações. A Polícia Federal descobriu que, em pelo menos uma delas, ele recebeu dinheiro da Planam para deixar de participar de uma concorrência na prefeitura de Governador Valadares (MG).

Duas outras fotos mostram Serra discursando em uma solenidade com o ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira, morto em julho, e outras autoridades. A quinta foto traz Serra ao lado de um ônibus escolar supostamente vendido pela Planam. A última mostra Serra participando da solenidade de entrega das ambulâncias da Planam. Ao lado dele, estão Lino Rossi e Pedro Henry.

PF: dinheiro era para pagar dossiê

Ontem foram presos Valdebran e Gedimar. O primeiro carregava US$109,8 mil (R$236.070) e R$758 mil. Gedimar tinha outros US$139 mil (R$298.850) e R$410 mil. Todo o dinheiro, totalizando R$1.702.920, foi apreendido e levado para a PF em São Paulo.

Segundo o delegado Geraldo Pereira, o dinheiro seria entregue a Trevisan em troca do dossiê.

A PF, então, pediu à Justiça Federal que decretasse a prisão preventiva de Vedoin. Ontem de manhã, o juiz César Bearsi atendeu ao pedido. À noite, o juiz também decretou as prisões preventivas de Valdebran e Gedimar. Eles ficarão presos em São Paulo, aguardando transferência para Cuiabá. Segundo fontes da PF, os dois prestaram depoimento e o juiz de Cuiabá decretou sigilo de Justiça sobre o que disseram. Todo o material será encaminhado para Cuiabá.

¿ Mais para frente saberemos a mando de quem estavam trabalhando ¿ disse um delegado da PF.

Sabendo da decisão da Justiça de Cuiabá, Vedoin se escondeu num motel de Cuiabá, mas acabou localizado. Com a prisão, ele deve perder o benefício da delação premiada, pelo qual teria a pena abrandada em razão de ter confessado participação no esquema. Durante os depoimentos da CPI dos Sanguessugas, o deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), que preside a comissão, chegou a cogitar o cancelamento da delação premiada por suspeita de que a família Vedoin estivesse negociando testemunhos.

Vedoin depôs durante toda a tarde na sede da PF em Cuiabá. Ele deixou o prédio por volta das 16h30m, sem dar entrevistas. Foi levado de volta para o anexo do Pascoal Ramos, onde esteve preso outras duas vezes este ano. Seu advogado Otto Medeiros Júnior disse, por telefone, que não falaria porque ainda não tinha lido a acusação.

¿ Não tenho noção do que está acontecendo. O que eu sei até agora é o que conversei com o delegado (Geraldo Pereira). Ele disse que as provas são contundentes ¿ afirmou.

A prisão de Vedoin e dos petistas aconteceu no dia em que a revista ¿IstoÉ¿ chegou às bancas, mais cedo, com entrevistas com os Vedoin, pai e filho. Na entrevista, eles fazem acusações a Serra e ao também ex-ministro tucano Barjas Negri, apesar de em depoimentos oficiais à CPI dos Sanguessugas Luiz Antônio Vedoin ter negado enfaticamente qualquer envolvimento de Serra.

COLABORARAM: Ricardo Galhardo e Cristina Coghi

www.oglobo.com.br/pais