Título: Juventude desiludida
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 16/09/2006, Rio, p. 17

Pesquisa do Ibope mostra que adolescentes cariocas estão pessimistas com o futuro

Descontente com o presente e sem ilusões quanto ao futuro. Este é o perfil, nada otimista, do jovem carioca, traçado por uma pesquisa feita pelo Ibope, a pedido do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio (SinepeRio). Entre julho e agosto, foram ouvidos em casa 812 adolescentes entre 14 e 18 anos: 48% deles acreditam que o Rio caminha para ser um lugar pior de se viver. Quando perguntados sobre algumas previsões para 2020, os jovens endossaram a falta de confiança: 73% acham que haverá mais meninos de rua, 69% acreditam que a Baía e as praias cariocas continuarão poluídas e 68% apostam que a violência aumentará. Violência e desemprego foram citados como os dois problemas mais graves do país.

¿ O jovem está vendo muito pouca perspectiva à sua frente. Vivemos uma crise geral de valores que se reflete diretamente no comportamento deles. Se queremos resgatar a esperança, precisamos de uma mudança estrutural. O problema não está só nos pais, na escola. Está no país em que vivemos, que não oferece alternativa aos adolescentes ¿ afirma o presidente do SinepeRio, Edgar Flexa Ribeiro.

Jovens exaltam moral e disciplina

A pesquisa ¿O jovem, a sociedade e a ética¿ será apresentada na próxima terça-feira, durante o 4º Congresso Rio de Educação, no Hotel Glória. O resultado revela ainda que os adolescentes estão pedindo limites e valores. A maioria dos entrevistados (58%) acredita que a moral é a base da sociedade e 82% acham que a educação dos jovens deve ter limites bens definidos. Para completar, disciplina rígida foi a segunda característica mais citada de uma boa escola (32%), mais até do que diálogo e liberdade (mencionados por 29%), e perdendo apenas para a criatividade (opção de 33%).

¿ É positivo constatar que o jovem está pedindo regras, que quer ter limites, receber advertências ¿ comenta Bertha do Valle, professora da Faculdade de Educação da Uerj.

Dos entrevistados, 48% afirmaram que o Rio tende a piorar; 32% a melhorar; e 18% acham que permanecerá igual. Em relação ao Brasil, a perspectiva também não é boa: 46% acham que a situação piorará. Já o mundo será pior para 48% dos adolescentes. A visão menos negativa dos jovens está em relação ao bairro em que mora: 41% acham que ele tende a piorar, contra 38% que pensam que ele irá melhorar.

Mesmo descrente no futuro, o jovem carioca ainda acredita em si para tentar mudar o país: 61% disseram que agem pensando no benefício de toda a sociedade e apenas 24%, em seu próprio benefício. Mas, quando perguntados sobre os outros, a situação se inverte: 53% acham que as pessoas só agem em seu próprio benefício e 29%, em prol da sociedade.

¿ No momento político por que passamos, o jovem perdeu a esperança de que alguém possa fazer alguma que mude a realidade do país. Por outro lado, ele tem confiança em si próprio, na sua responsabilidade individual ¿ avalia a pesquisadora Yvonne Maggie, professora de antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.

Outro dado ressaltado na pesquisa é a importância da família na visão do jovens. Para 77% dos entrevistados, é ela a principal responsável por um bom futuro em suas vidas. A escola apareceu em seguida, com 48%. Os pais são citados como os grandes formadores de valores: para 84%, eles têm grande importância. Os professores vêm em seguida: para 55%, eles têm grande influência numa boa formação.

A relação dos maiores problemas do Brasil se reflete nas instituições em que o jovem menos confia. A violência é a principal preocupação dos adolescentes, com 60% do total. A lista segue com desemprego (40%) e corrupção (37%). Os mais desacreditados pelos jovens são os políticos, com apenas 9% de confiança, seguidos da polícia, com 19%.

Por outro lado, os jovens mostram crença na educação. Os professores aparecem no topo da lista dos mais confiáveis, com 84%. Logo em seguida vêm a escola particular (77%) e a escola pública (76%).

¿ As escolas públicas, ao contrário do que se propaga, têm bons projetos pedagógicos, bons professores e bons diretores ¿ comenta o secretário estadual de Educação, Arnaldo Niskier.

Na próxima terça-feira, também vão ser conhecidos os 12 ganhadores do concurso de redações promovido pelo SinepeRio, com o tema ¿A ética do presente e o cidadão do futuro¿. O diretor do Colégio Metropolitano, Henrique Zaremba, que coordenou a pesquisa e o concurso, acredita que as previsões pessimistas dos jovens podem ser revertidas:

¿ Sou um otimista e acho que a sociedade vai reagir. Esta reação vai partir de algumas instituições, e tenho certeza que a escola é uma delas.

http://www.oglobo.com.br/rio