Título: SALÁRIO E DESEMPREGO AVANÇAM
Autor: Cássia Almeida e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 16/09/2006, Economia, p. 27

Trabalhador ganhou mais pela primeira vez em 9 anos, mas taxa de desocupação sobe

Mais emprego, renda e carteira assinada, num mercado de trabalho um pouco menos desigual, foi o retrato de 2005 revelado pelo maior levantamento anual sobre as condições de ocupação e dos lares brasileiros, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgado ontem pelo IBGE. Pela primeira vez em nove anos, o trabalhador viu seu rendimento real crescer para R$801 (quando se exclui o Norte rural, que passou a fazer parte da pesquisa em 2004, o salário médio sobe para R$805). Mas, apesar da alta de 4,6% nos rendimentos no ano passado, os ganhos médios do trabalho ainda estão 15,1% menores do que em 1996.

Os 2,5 milhões a mais de trabalhadores ocupados que a Pnad 2005 contabilizou, numa alta de 2,9% na ocupação, não foram suficientes para baixar a taxa de desemprego, que subiu de 8,9% em 2004 para 9,3%. E uma parcela importante dos novos ocupados veio pela inserção sem rendimento, os chamados trabalhadores para o próprio consumo, que já representam 20% do total, ou cerca de 500 mil pessoas. Nos três anos do governo Lula, mais 6,2 milhões de trabalhadores conseguiram uma ocupação.

¿ A Pnad 2005 mostrou que os indicadores econômicos e sociais evoluíram de forma favorável . A renda real cresceu, aumentou o grau de formalização, e o nível de ocupação das mulheres é o maior desde 1992. E a taxa de analfabetismo caiu, juntamente com uma pequena queda do Índice de Gini (que mede a desigualdade de renda) ¿ disse o presidente do IBGE, Eduardo Nunes.

O emprego formal cresceu em todas as atividades ¿ setor agrícola, indústria, construção, comércio e serviços. E os ganhos de renda foram disseminados pelas diferentes faixas salariais. Para os especialistas, a maior qualidade no mercado de trabalho foi a melhor notícia trazida pela Pnad 2005:

¿ Se tirarmos os trabalhadores para o próprio consumo e incluirmos militares, servidores públicos e empregadores, 80% das vagas criadas foram formais. É um conjunto de notícias que mostra a recuperação do mercado de trabalho, com a expansão da ocupação puxada pelo emprego formal, com alta de renda e ligeira queda da desigualdade ¿ analisou Lauro Ramos, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo os analistas, o setor industrial passou por uma forte reestruturação na década de 90, quando a abertura comercial do país impôs cortes de vagas. Agora, mesmo diante de um crescimento econômico não tão vigoroso, a indústria, enxuta, voltou a contratar.

Para a alta do rendimento pesaram, na opinião dos analistas, o reajuste real de 9,9% no salário mínimo, a queda da inflação e o aumento de 5,3% no emprego formal, que paga salários maiores. Este ano, pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) já foram abertas mais de um milhão de vagas com carteira assinada, indicando que a Pnad de 2006 deve mostrar novamente alta no emprego protegido:

¿ A inflação mais baixa deixa o ambiente mais favorável para o trabalhador negociar ganhos reais ¿ explicou Claudio Dedecca, professor da Unicamp.

Mas o estudioso se preocupou com o aumento da força de trabalho, que soma os empregados e desempregados, de 3,4%. Como essa taxa foi superior aos 2,3% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas no país), há um indício de menor produtividade na economia, ou seja, mais trabalhadores para produzir menos:

¿ Isso poderá ter como conseqüência o aumento do desemprego, que já aconteceu em 2005, e da informalidade ¿ alerta.

Rendimento feminino aumentou mais

No ano passado, a mulher continuou entrando com força no mercado de trabalho. Em cada cem mulheres com mais de dez anos de idade, 46 estão trabalhando, num nível de ocupação que, pelo segundo ano seguido, foi recorde. No rendimento, as mulheres avançaram ainda mais: enquanto o salário masculino cresceu 3,9%, o das mulheres subiu 6,3%:

¿ Não tem escapatória. O mercado de trabalho será dominado pelas mulheres. Elas são mais instruídas, mais disciplinadas e vivem mais. Portanto, é só uma questão de tempo ¿ previu Lauro Ramos.

Érica Costa ajudou a engordar as estatísticas de ganho de renda das mulheres. Assistente de vendas sênior da imobiliária Basimóvel, Érica recebeu aumento de 30% no seu salário no ano passado. Ela entrou na empresa há quatro anos e, desde então, viu seu salário subir de R$800 para R$2.078.

¿ Fiquei muito contente com o último aumento. É um reconhecimento do meu trabalho.

Mas a economista Hildete Pereira de Melo lembra que, apesar de mais instruídas, as mulheres ainda ganham bem menos que os homens. Em média, o salário delas representava 71,2% do ganho deles no ano passado ¿ em 1992, era 61,6%. Hildete avalia que, em 2005, o ganho de renda das mulheres foi maior porque elas se empregam em ocupações mais precárias, como serviço doméstico e trabalho por conta própria, que são mais influenciadas pelos aumentos do salário mínimo.

GOVERNO LULA AVANÇOU NO EMPREGO, E FH, NA EDUCAÇÃO, na página 28