Título: DESIGUALDADE CAI, PORÉM NUM RITMO MAIS LENTO
Autor: Luciana Rodrigues, Leticia Lins e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 16/09/2006, Economia, p. 32
Renda do trabalho sobe para todos e concentração recua ao menor patamar desde 1981
Depois de cair mais de 1% em 2004, o Índice de Gini do trabalho (indicador que mede a desigualdade de renda) recuou só 0,55% no ano passado. Apesar da queda modesta, os especialistas comemoraram a continuidade na redução da desigualdade (que está no menor índice desde 1981) e, também, o fato de isso ter ocorrido num ano em que todos os brasileiros tiveram ganho de renda. Quando os rendimentos do trabalho começaram a recuar, em 1996, a desigualdade caía às custas de retração nos ganhos dos mais ricos ou de queda menor nos salários dos mais pobres.
¿ Não podemos ficar mimados e esperar que em todos os anos a desigualdade caia com força. O importante é que está havendo queda, ou seja, que estamos na direção correta ¿ afirma Naércio Menezes Filho, economista da USP.
Todos ganharam, mas entre os mais pobres, ganho maior
O Índice de Gini dos rendimentos do trabalho caiu de 0,547 para 0,543 em 2005 (quanto mais perto de zero, melhor). Se excluídas as áreas rurais da Região Norte, o que é importante para efeitos de comparação com anos anteriores, já que esses locais só passaram a ser pesquisados em 2004, o Índice de Gini do trabalho ficou em 0,544.
No ano passado, a desigualdade recuou em meio a um ganho disseminado de renda. Dos 10% mais pobres ao 1% mais rico da população, todos viram seus rendimentos avançarem. Porém, entre os mais pobres, o ganho foi maior. Os 50% mais desfavorecidos viram sua renda crescer 6,6%, contra 4,1% da outra metade.
Na renda domiciliar, que inclui as transferências dos programas sociais, aposentadorias e, também, os ganhos financeiros, o Índice de Gini recuou 0,56%, caindo para 0,532.
Para o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a queda menor da desigualdade reflete uma escolha de gasto social:
¿ Em 2005, houve um ganho maior do salário mínimo e uma expansão menor do Bolsa-Família, por isso a queda menor na concentração de renda.
O economista fez as contas de quanto aumentou o bem-estar da população, cruzando indicadores de desigualdade com ganho de renda. Nessas contas, o bem-estar subiu 7,6%, a maior alta desde 2001. Foi um desempenho melhor do que em 2004 (alta de 5,9%), por ter havido ganho maior de renda no ano passado:
¿ O PIB brasileiro cresceu como o do Haiti, mas a renda aumenta a ritmo indiano. O aumento do salário surpreendeu, já que o PIB per capita subiu apenas 1%.
Para este ano, o economista acredita que a melhoria na desigualdade e no mercado de trabalho prossiga:
¿ Mas vai ficar difícil dizer como ficarão os rendimentos, diante da alta expressiva e tão distante do crescimento do PIB como vimos em 2005.
Alguns motivos que provocaram a queda da desigualdade persistem este ano. Neri lista a geração de emprego formal, o aumento do Bolsa-Família e do salário mínimo.
¿ Mas o impacto do Bolsa-Família, por ser mais focalizado, reduz mais a desigualdade.
Para Claudio Dedecca, da Unicamp, o mínimo continuará contribuindo para a queda da concentração, inclusive no mercado de trabalho:
¿ No Nordeste, por exemplo, os rendimentos são muito atrelados ao mínimo.