Título: OPOSIÇÃO PEDE CRESCIMENTO. GOVERNO COMEMORA
Autor: Cristiane Jungblut, Flávio Freire e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 16/09/2006, Economia, p. 33

Candidatos de PSDB e PDT reclamam do baixo nível de expansão da economia brasileira e do trabalho infantil

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA e CURITIBA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou indiretamente os resultados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ao afirmar que o Brasil tem hoje o menor nível de desigualdade social dos últimos 25 anos. Segundo Lula, a desigualdade está sendo reduzida principalmente devido ao programa Bolsa Família, que atinge hoje 11,1 milhões de pessoas. Mas o Palácio do Planalto não divulgou nota sobre a pesquisa.

¿ Se hoje vivemos no Brasil menos desigual dos últimos 25 anos, isso se deve muito às políticas que tiveram na segurança alimentar sua constituição fundamental. O Bolsa Família já é responsável por um terço da queda da desigualdade brasileira. A desnutrição infantil caiu 62% entre as crianças de 6 a 11 meses beneficiadas por esse programa. Em todo o país, 94% dos meninos e meninas já comem três vezes ao dia ¿ disse Lula, na cerimônia de sanção da lei que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).

Ele disse ainda que todos esses benefícios são feitos com base em cadastro ¿transparente e confiável¿.

Alckmin lembra das demissões anunciadas

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, por sua vez, minimizou os efeitos positivos registrados na renda do trabalhador, segundo a Pnad, que indica elevação de 4,6% no ganho médio, de R$770 em 2004 para R$805 no ano passado. O resultado não empolgou o tucano.

¿ O Brasil está crescendo muito pouco. Tivemos no ano passado crescimento de 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto). A continuar nessa média, vai levar cem anos para dobrar a renda per capita ¿ disse ele antes de uma carreta na periferia de Curitiba.

Em meio às críticas ao governo, Alckmin ainda destacou as demissões em massa em diversos setores:

¿ Não é possível o Brasil ser o último da fila. A Volkswagen está demitindo 3.600 funcionários, e há cortes na agricultura, na agroindústria, nos setores têxtil, calçado, móveis. Precisa melhorar.

Já o candidato do PDT, senador Cristovam Buarque (DF), afirmou ser ¿muito grave e inadmissível¿ o aumento no número de crianças trabalhando no país, mostrado pela Pnad. Segundo ele, isso aconteceu porque o governo abandonou o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) quando criou o Bolsa Família:

¿ Essa é a causa do aumento e, eticamente, é mais grave que mensalão. É uma vergonha e ao mesmo tempo frustrante, porque a eleição de Lula representou, ao mundo todo, a perspectiva de virarmos essa página.

Cristovam disse que em 2003, quando era ministro da Educação, alertou Lula para o risco do aumento do trabalho infantil. Sobre a melhora em outros índices, como a renda, ele afirmou que os avanços foram muito pequenos em comparação a outros países. Para o pedetista, os resultados da Pnad podem beneficiar Lula na corrida presidencial, mas não representam mudança para o país:

¿ Se continuarmos neste ritmo, em 20 anos não teremos saído do lugar e estaremos muito mais atrás do que os outros países.

Para deputado do PSDB, economia é herança de FH

Enquanto a oposição minimizava os dados positivos, os governistas comemoravam a recuperação da renda e o crescimento da oferta de trabalho. Para a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), a expectativa do governo era positiva, tendo em vista que nos últimos dois anos algumas ações federais foram intensificadas:

¿ Os números da Pnad mostram, na prática, o motivo de o governo Lula estar chegando ao seu final com quase os mesmos índices de aprovação de seu início. O que é extraordinário, ainda mais depois de tantas turbulências que enfrentamos.

Já o vice da chapa de Alckmin, o senador José Jorge (PFL-PE), disse que os números da Pnad poderiam ser muito melhores se o Brasil estivesse crescendo no mesmo nível que os demais emergentes.

¿ Esses números apenas comprovam que o Brasil está patinando. Crescer assim não nos leva a nada. Somos o lanterninha entre os países emergentes ¿ acrescentou o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso, o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) ressaltou que os resultados positivos na economia são reflexo de uma política anterior ao governo Lula.

¿ A situação já vinha melhorando há algum tempo na área econômica. O lamentável é que tenha regredido em tantas outras ¿ disse Madeira.

(*) Enviado especial