Título: Graves conflitos internos¿
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 16/09/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 12

Para Guillermo Hollzman, professor da Universidade do Chile, a presidente Michelle Bachelet não deixou claro como fará para alcançar uma de suas principais metas: pagar a dívida social do país.

Nos últimos dias, o governo de Bachelet enfrentou uma série de protestos nas áreas de saúde e educação. Existe uma crise na área social do governo?

GUILLERMO HOLLZMAN: Eu não falaria em crise, mas sim em conflitos complicados. Nos últimos meses, a disparada do preço do cobre provocou enormes expectativas no país pelos recursos excedentes que o governo teria para financiar programas sociais. O governo, de fato, liberou recursos para educação e saúde, o problema é que outros setores, dentro das mesmas áreas, começaram a demandar mais financiamento. Bachelet prometeu saldar a dívida social do Chile e agora está enfrentando as demandas de setores que exigem o cumprimento dessa promessa. O eixo da crise é o excedente de US$7 bilhões que o país receberá este ano pelas exportações de cobre.

Em seus primeiros seis meses de governo, Bachelet conseguiu melhorar a situação social do país?

HOLLZMAN: Seis meses é pouco tempo, estimamos que a taxa de pobreza, por exemplo, continua em 18%. Um dos maiores desafios é ajudar a classe média baixa a voltar a ser classe média. Bachelet ainda não conseguiu.

Quando Bachelet assumiu o poder, em março passado, sua popularidade alcançava 62%. Hoje caiu para 44%...

HOLLZMAN: Sim, existe um clima de preocupação no governo porque a presidente não conseguiu recuperar a popularidade perdida.

Seus principais opositores parecem ser os membros da ala mais conservadora da Concertação...

HOLLZMAN: É verdade, a Concertação está submersa em graves conflitos internos, como nunca antes tinha ocorrido no país. A oposição de direita está desnorteada e a ala conservadora da Concertação representa hoje a principal oposição ao governo de Bachelet. (J.F.)