Título: FALTA DE FINANCIAMENTO PÚBLICO LEVA CANDIDATOS A GASTAR 19 VEZES MAIS
Autor: Alan Gripp e Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 17/09/2006, O País, p. 13

Em 11 estados e no DF, despesa com campanha já superou R$7 por eleitor

BRASÍLIA. A análise das prestações de contas entregues à Justiça Federal revela que, a menos de um mês das eleições, os candidatos de 11 estados e do Distrito Federal já haviam gasto em suas campanhas eleitorais bem mais dinheiro que os R$7 por eleitor previstos na proposta de financiamento público de campanhas, em tramitação no Congresso.

Seis das 12 unidades da federação onde foram registrados gastos elevados ficam na Região Norte (Amapá, Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins); quatro no Centro-Oeste (Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás); e duas no Nordeste (Piauí e Sergipe). Em nenhum estado do Sul e do Sudeste os candidatos atingiram a marca. O Espírito Santo foi o que mais se aproximou da média nacional: os candidatos já gastaram R$6,70 por eleitor.

Campanha de 2006 vai custar R$16,6 bilhões

Nas estimativas entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os mais de 18 mil candidatos que concorrem às eleições planejaram gastar mais de R$16,6 bilhões na campanha ¿ incluídos os candidatos à Presidência. O valor total estimado equivale a 0,79% do PIB brasileiro ou a duas vezes o orçamento do Ministério da Educação este ano. Se for assim, o voto de cada eleitor brasileiro custaria R$132,80. Isso significa 19 vezes mais que os R$7 estipulados na proposta no financiamento público de campanha.

Com a experiência de quem elaborou um programa através do qual grandes empresas escolhem os candidatos que vão financiar adotando critérios como transparência e currículo ¿ usado por gigantes como a empreiteira Odebrecht ¿, o cientista político Walder de Góes tem uma explicação para a diferença das arrecadações nos grandes centros e nos grotões:

¿ As empresas instaladas nos grandes centros estão dando menos dinheiro. Com medo de doarem dinheiro para um candidato que venha a ser denunciado por corrupção meses depois, elas fugiram da campanha. Nós tivemos este ano uma onda inédita de lama ¿ diz Góes.

A cientista política Lúcia Hipólito diz que não se pode desprezar outros fatores que podem encarecer ou baratear as campanhas. Ela lembra, por exemplo, que em áreas pouco urbanizadas os gastos com transporte serão naturalmente mais altos:

¿ É claro que tem muita compra de votos, mas no Amazonas, por exemplo, os candidatos vão sempre gastar mais, pois se locomovem de barco e avião o tempo inteiro. Já em Minas Gerais, que é um estado muito grande, isso não acontece por outro fator: o voto é muito distribuído por distritos.