Título: ELEIÇÃO DE AÉCIO É PRÉVIA DE 2010 PARA MINEIROS
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 17/09/2006, O País, p. 18

Esperança de levar estado a retomar importância na política nacional explicaria os 70% de intenções de voto no tucano

BELO HORIZONTE. Apontado pelas pesquisas como provável campeão de votos destas eleições, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), transformou-se numa espécie de questão de honra para os mineiros. A população de Minas faz da campanha deste ano uma prévia da disputa presidencial de 2010 e vota majoritariamente nele com esperança de que Aécio retome a influência do estado na política nacional. O raciocínio dos mineiros é pragmático: Aécio precisa ser reeleito de forma expressiva para se tornar um forte candidato ao Planalto na sucessão de Lula, caso o petista ganhe novo mandato este ano.

A força de Aécio pôde ser constatada na semana passada, quando ele conseguiu o que parecia impossível: com 70% das intenções de voto na pesquisa Ibope/TV Globo contra 13% do candidato do PT, Nilmário Miranda, transferiu votos para o seu candidato ao Senado, o deputado Eliseu Resende (PFL-MG). O pefelista começou com apenas 9% das intenções de voto. Mas, segundo levantamento feito entre os dias 11 e 13 de setembro, Eliseu pulou para 35% e abriu uma margem de dez pontos sobre o então favorito para o Senado, o ex-governador Newton Cardoso (PMDB).

¿ Se eu for eleito, o responsável será Aécio. Não serei um senador do PFL, mas do Aécio ¿ diz Eliseu.

Mística familiar ainda estaria viva

Para o cientista político Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, além da expectativa com o futuro, o fenômeno eleitoral de Aécio tem outros dois componentes: um no passado e outro no presente. A mística familiar de Aécio ainda está viva na memória dos mineiros. Principalmente dos eleitores com mais idade, que viveram o drama da morte de Tancredo Neves, em 1985, adiando mais uma vez o sonho de Minas voltar à Presidência da República. Nesse caso, Aécio seria o resgate do projeto interrompido pelo destino.

Já o presente é representado por sua gestão administrativa. Seu governo é bem avaliado, tendo sido favorecido pelas administrações ruins de seus sucessores desde 1986. Nesse período o estado foi governado por Newton Cardoso, Hélio Garcia, Eduardo Azeredo e Itamar Franco e enfrentou crise na segurança pública, moratória, atrasos na folha de pagamento do funcionalismo, 13º pago em parcelas e muitas greves.

¿ Ele conseguiu resgatar a auto-estima dos mineiros. A população estava traumatizada com administrações anteriores. Ao votar em Aécio, o eleitor faz um cálculo simples: aposta no futuro, reconhece o presente e faz uma homenagem ao passado ¿ resume Coimbra.

Ao assumir o governo, em 2002, Aécio adotou uma máxima do mestre da ciência política, o florentino Nicolau Maquiavel: é preciso fazer todo o mal de uma só vez para que, provado em menos tempo, pareça menos amargo. Nos primeiros meses de gestão, ele adotou medidas impopulares em Minas. Enxugou a folha de pagamento, cortou cargos comissionados e reduziu o número de secretarias. Com uma receita simples, gastava apenas o que arrecadava, regra que o estado não cumpria havia dez anos. Para comemorar, fez um grande carnaval midiático e chamou a ¿façanha¿ de déficit zero.

Para gerir a máquina administrativa, ele colocou técnicos em todas os principais cargos da burocracia. Com isso, não ficou prisioneiro de gabinetes e garantiu tempo livre para, inclusive, curtir a vida de um quarentão cobiçado. O secretário de Planejamento dos primeiros anos de governo, Antonio Anastasia, virou seu principal assessor. Tanto que, para evitar disputas e poder deixar o governo com tranqüilidade em 2010, Aécio o indicou para ser o seu candidato a vice na chapa da reeleição. Seu estilo descentralizador também é elogiado.

¿ O Aécio tem duas vertentes importantes. Ele combina a habilidade política de ser conciliador com um valor moderno de apresentar administração de resultados ¿ diz o cientista político Leonardo Alves Lamounier, doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais.

A habilidade política do governador tucano fica clara no tratamento dispensado a aliados e adversários. Como poucos, ele consegue superar divergências do passado. Para a vaga do Senado, pôs Eliseu Resende, principal adversário do avô Tancredo Neves na disputa pelo governo de Minas, em 1982. Com o ex-presidente Itamar Franco, conhecido por ser um político temperamental, Aécio tem um tratamento especial e atualmente é um dos seus principais interlocutores. Ele costuma fazer elogios rasgados ao ex-presidente, como na última quinta-feira no comício com o candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, em Juiz de Fora.

Já na montagem de seu palanque, pôs na sua coligação praticamente todos os partidos mineiros, inclusive o PSB que apóia o presidente Lula e o PTB, do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Ficaram de fora PT e PMDB. Mesmo assim, 23 prefeitos petistas anunciaram apoio ao governador tucano. A salada partidária acaba criando constrangimentos nos palanques locais, onde Aécio costuma postar lado-a-lado adversários históricos.

¿ Ele fechou coligação com partidos de todas as facetas ideológicas. Ele tem em seu palanque tanto políticos da esquerda como integrantes do esquema do mensalão ¿ observa o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que apóia Aécio.

Aliança branca com Pimentel

Em Minas, todos apostam numa aliança branca, em 2010, entre Aécio para presidente e o atual prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), que sairia candidato ao governo estadual. Pimentel faz questão de elogiar Aécio e cita o poeta Carlos Drummond de Andrade para deixar no ar as conversações políticas entre os dois.

¿ ¿Minas o que é? Só os mineiros sabem¿. O Aécio faz um governo bem avaliado. Contra fatos não há argumento. Mas não há acordo ou projeto para 2010. O que há é uma boa relação entre nós dois. Posso dizer é que há o sentimento no estado para que Minas dispute a Presidência. E quem senta na cadeira de governador tem projeção maior. Não posso negar que Aécio é preparado para ocupar o cargo de presidente ¿ diz Pimentel.

O mesmo sentimento do prefeito da capital é percebido nas ruas do interior. Quando chega nas cidades, Aécio transforma-se em celebridade. Na tarde de sexta-feira, ao chegar em Araguari, no Triângulo Mineiro, populares chamavam Aécio de presidente. Ele causa frisson especialmente nas mulheres, que costumam agarrá-lo. Na quinta-feira, em Guaxupé, a professora Solange Rezende, 35 anos, não conseguiu esconder o entusiasmo. Furou o bloqueio dos seguranças para entrar na pista do aeroporto da cidade e beijar Aécio.

¿ Acho que Aécio é o futuro presidente do Brasil. Ele é bonito, charmoso e ainda é solteiro. Pode? ¿ comentava Solange, que agarrou Aécio assim que ele saiu do jatinho.

¿Pode namorar quem quiser¿

O tucano está num momento tão bom que nem a fama de namorador ou sua preferência pelo Rio incomoda a sociedade mineira. Com freqüência ele aparece em fotos ao lado de modelos e atrizes. Mas o que deveria causar reação na terra da tradicional família mineira é visto de forma racional pelos populares.

¿ Essa fama de mulherengo não incomoda ninguém. O que nós queremos é o resultado prático. E Aécio dá conta do recado. Se o governo estivesse ruim, ele não poderia sair para passear que seria criticado ¿ diz o taxista Valentim Ferreira, que trabalha em Belo Horizonte.

¿ Aécio pode ficar com quem quiser fora do estado, desde que ele não vá namorar as filhas da tradicional família mineira ¿ brinca um deputado da base aliada do governador.

Só se for para casar, dizem outros amigos.

*O repórter viajou para Araguari e Guaxupé, em Minas, no avião de campanha do candidato do PSDB