Título: NO RIO, DESEMPREGO SOBE MAIS E RENDA, MENOS
Autor: Cássia Almeida e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 17/09/2006, Economia, p. 35

Vagas formais subiram 4,9%, enquanto o número dos sem-carteira caiu 2,71%. Há internet em 26% dos lares

A melhora no mercado de trabalho brasileira em 2005, constatada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2005), divulgada na última sexta-feira pelo IBGE, não se reproduziu com a mesma força no Estado do Rio. Enquanto o rendimento médio real no país avançou 4,6%, no Rio, a alta foi menor: 3,26%. Mesmo assim, a renda do trabalhador fluminense é superior à média nacional: R$949 contra R$801. A criação de vagas também frustrou no estado: alta de apenas 0,7%, com mais 48.700 trabalhadores ocupados, contra 2,9% no país.

E a taxa de desemprego subiu com mais intensidade no estado. Em 2004, atingiu 11,4% da força de trabalho e, em 2005, subiu para 12,6%. No Brasil, o avanço do desemprego foi de 8,9% para 9,3%.

Reajustas acima da inflação na metalurgia

O metalúrgico Alex Ferreira dos Santos, funcionário da Forja Brasileira Metalúrgica, não tem do que reclamar. Conseguiu quase 7% de aumento salarial em outubro de 2005:

¿ Na empresa, o reajuste foi maior que o negociado no dissídio (5,65%). Também conquistamos plano de saúde.

O metalúrgico, porém, não acredita que esse bom cenário de 2005 se repita este ano. Às vésperas de entrar na discussão do dissídio coletivo ¿ a data-base é em outubro ¿ a situação mudou por conta da valorização do real. A empresa em que trabalha fornece para as montadoras e está sofrendo com a exportação menor:

¿ No ano passado, eles contrataram quase cem pessoas. Este ano, tememos demissões.

E notícia boa veio na qualidade do emprego. As poucas contratações que aconteceram no Rio foram, na sua maioria, com carteira assinada. O emprego formal subiu 4,9%, enquanto o número de trabalhadores sem carteira assinada caiu 2,71%. O de conta-própria subiu pouco: 1,6%.

Para a economista Hildete Pereira de Melo, professora da UFF, mesmo com o forte crescimento da indústria do petróleo, o Rio amarga fraco desempenho no mercado de trabalho porque a maioria de seus empregos está nos serviços:

¿ O Rio sofreu um processo de encolhimento do setor industrial, e os empregos nos serviços pagam muito mal.

Hildete afirma que a revitalização da indústria naval não teve efeitos grandes no emprego porque o setor se abastece de autopeças principalmente em São Paulo:

¿ A indústria metal-mecânica do Vale Paraíba também funciona assim. O estado tem que ficar atento a isso nos próximos investimentos industriais, como o pólo siderúrgico.

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), pensa da mesma maneira que a professora da UFF. Ele lembra que a Região Metropolitana do Rio é menos industrializada que a de Fortaleza e Salvador:

¿ O estado é voltado para os serviços, o emprego que cresceu mais foi na indústria.

O IBGE também investigou, este ano, o uso da internet e do celular nos estados. Quase metade dos fluminenses (48,7%) têm telefone móvel, parcela que só é inferior às do Distrito Federal (66,3%) e do Rio Grande do Sul (54,7%). No acesso à internet, o Rio registrou o quarto maior desempenho: 26,7% dos lares conectados. Kamille Oliveira, de 13 anos, não passa um dia sem acessar a internet. E usa o computador como substituto do telefone, apesar de ter um aparelho celular.

¿ Falo mais com os meus amigos pelo computador. Se não fosse isso, a conta do telefone seria mais de um milhão de reais ¿ brinca Kamille.

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