Título: AGÊNCIAS ATENTAS AO PRAZO DA DÍVIDA
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/09/2006, Economia, p. 38
Para analistas, Tesouro precisa avançar para Brasil obter grau de investimento
BRASÍLIA. O aumento gradativo da participação de títulos prefixados na dívida pública vem sendo comemorado pelo Tesouro Nacional como um passo importante para o Brasil obter o grau de investimento ¿ nota dada pelas agências de classificação de risco que equivale a uma recomendação para investir. Como têm remuneração definida no momento da venda, esses papéis permitem maior previsibilidade. Mas as agências também observam outro indicador: os prazos.
Até agosto, a parcela da dívida mobiliária com vencimento a curto prazo (12 meses) chegava a 39,2%, enquanto a meta do Plano Anual de Financiamento (PAF) prevê entre 31% e 36% até o fim do ano. Já o prazo médio do endividamento está em 29,8 meses, abaixo da meta do PAF, de 30 a 35 meses.
O alongamento da dívida é considerado importante porque quanto maior o prazo de vencimento dos títulos públicos, menor o risco de calote. O problema é que os prefixados, que hoje são 31,5% do estoque, têm prazos mais curtos.
O vice-presidente sênior da Moody¿s, Mauro Leos, diz que um dos motivos para o Brasil ter hoje nota Ba3 (três níveis abaixo do grau de investimento) é o fato de ainda não ter feito os avanços necessários no prazo da dívida. O diretor-executivo da Fitch, Rafael Guedes, lembra que o Brasil já avançou ao reduzir significativamente a parcela indexada a câmbio (hoje em 2,2%), mas há preocupação quanto à capacidade do governo de honrar um valor muito alto de débitos a curto prazo.
¿ Pós-fixados e cambiais são papéis que as agências de classificação de risco não gostam de ver, pois sabem que o governo não tem controle sobre esses títulos ¿ diz Guedes.
Lisa Schineller, analista de rating soberano da Standard & Poor¿s (S&P), lembra que o Brasil inclui os cupons (pagamentos de juros intermediários à data de vencimento) na hora de avaliar o prazo médio da dívida, reduzindo-o. Segundo ela, sem isso o prazo médio seria de 44 meses, e não de 29. Lisa diz que, mesmo assim, o prazo é curto, o que é um ponto fraco na classificação do país.
As notas de S&P e Fitch atualmente são BB, a dois níveis do grau de investimento.
Secretário: humor do mercado influencia
Segundo o consultor da LCA Bráulio Borges, os investidores preferem os títulos corrigidos pela Selic por temerem perdas em caso de alta da inflação. Por isso, explica, o governo tem de deixar claro que está trabalhando para manter a inflação sob controle.
O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, diz que o prazo da dívida deve ser enquadrado no PAF até dezembro. E afirma que o alongamento da dívida também depende do humor do mercado:
¿ Se você tem um mercado mais otimista, que está antecipando maior queda de juros e inflação menor, pode alongar a dívida mais rapidamente.