Título: JUSTIÇA ELEITORAL PROÍBE QUÉRCIA DE MOSTRAR IMAGENS DE DOCUMENTOS
Autor: Maria Lima, Jailton de Carvalho e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 18/09/2006, O País, p. 3

Candidato do PMDB levou programa ao ar no mesmo dia em que revista publicou denúncias; tucanos protestam contra `baixaria¿

SÃO PAULO E RIO. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) proibiu ontem o candidato do PMDB ao governo paulista, Orestes Quércia, de exibir na TV trechos de reportagem da revista ¿IstoÉ¿ que vinculam o rival José Serra, do PSDB, à máfia das ambulâncias. O peemedebista levou a propaganda eleitoral ao ar na última sexta-feira, mesmo dia em que a revista chegou às bancas.

Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Gedimar Passos disse ter recebido dinheiro de uma revista para comprar um dossiê com denúncias contra Serra. Gedimar e o empresário Valdebran da Silva, que é filiado ao PT e arrecadou recursos para o partido na campanha municipal de 2004, foram presos na sexta-feira com R$1,7 milhão em dinheiro. Segundo a PF, a quantia seria destinada à compra do dossiê.

Procurado, o diretor editorial da ¿IstoÉ¿ não retornou as ligações. Autor da reportagem, o redator-chefe da revista, Mário Simas Filho, disse desconhecer qualquer tipo de acordo financeiro para a publicação da matéria.

¿ Fui procurado por uma fonte que informou que os Vedoin estavam prestes a entregar à polícia e à Justiça documentos que comprometiam José Serra ¿ disse Simas, acrescentando que, depois de insistir, conseguiu que os donos da Planam concedessem a entrevista em que confirmaram a versão.

O redator-chefe da ¿IstoÉ¿ disse ainda que a entrevista foi gravada e que os Vedoin não falaram em fitas de vídeo, fotos ou dossiê contra Serra. Quércia também foi procurado para falar sobre a utilização do material da revista em seu programa eleitoral, mas sua assessoria não retornou aos telefonemas.

O diretor do ¿Observatório da Imprensa¿, Alberto Dines, criticou a reportagem da ¿IstoÉ¿ com as supostas denúncias. Para o jornalista, a revista deve explicações sobre a publicação de informações contidas no dossiê apreendido pela PF.

¿ Esse é mais um caso do que o ¿Observatório¿ denuncia, há anos, como jornalismo fiteiro. A matéria é evidentemente engajada. Não houve investigação, apenas a transcrição do suposto dossiê ¿ criticou.

Segundo Dines, o episódio remete a outros casos polêmicos envolvendo a ¿Istoé¿, que já foi alvo de denúncias de vender reportagens de capa e manipular pesquisas eleitorais.

Quércia e Domingos Alzugaray, editor e diretor responsável da ¿IstoÉ¿, são amigos e parceiros em vários negócios. A gráfica da Editora Três em Cajamar (SP), onde a revista é impressa, é responsável por todo o material de campanha do PMDB em São Paulo.

No início do ano, a revista encomendou uma pesquisa ao Ibope destacando a posição do então pré-candidato à presidência pelo PMDB, Anthony Garotinho, que era apoiado por Quércia. Na década de 90, a ¿IstoÉ¿ chegou a incluir o ex-governador paulista entre as principais personalidades brasileiras do século XX, em coleção distribuída a assinantes.

A campanha de Serra reforçou ontem as alusões à apreensão do dossiê. Numa das inserções de 30 segundos que foram ao ar ao longo do dia, um locutor diz: ¿Sabe por que começou a baixaria contra o Serra? Porque ele é o primeiro disparado nas pesquisas. Aí os adversários se desesperaram e partem para o vale-tudo da política. Diga não à baixaria¿. Os tucanos temem que, nos próximos dias, o PT veicule imagens de Serra, ainda como ministro da Saúde, numa cerimônia de entrega de ambulâncias ao lado do empresário Luiz Antônio Vedoin, em Cuiabá.

(*) Especial para O GLOBO. COLABOROU: Flávio Freire