Título: BOLÍVIA RETOMA HOJE NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS COM EMPRESAS DE PETRÓLEO
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Fonte: O Globo, 18/09/2006, Economia, p. 19
Espanhola, francesa, inglesa e Petrobras estão na lista. Postura técnica é esperada
LA PAZ. O governo boliviano retoma hoje as negociações com as empresas petrolíferas, com uma nova equipe, após a troca no Ministério dos Hidrocarbonetos. A primeira é a Andina, subsidiária da hispano-argentina Repsol YPF, que semana passada teve um de seus campos ocupado por indígenas. Segundo o cronograma difundido ontem, as próximas discussões serão com a francesa Total e com a British Gas, para estabelecer novos contratos sob as regras da nacionalização, decretada em 1º de maio.
As negociações com a Petrobras sobre os preços do gás natural vendido ao Brasil serão retomadas em 29 de setembro. O governo estabeleceu o dia 1º de novembro como prazo final para que as companhias de energia assinem novos contratos de operação, dando ao Estado boliviano maior controle, ou, caso contrário, deixem o país.
Controle de refinarias da Petrobras será discutido
Empresários e a oposição pediram ao governo uma mudança nas negociações para reativar a indústria do país, que suspendeu os investimentos após a nacionalização.
Segundo analistas, a saída de Andrés Soliz Rada do Ministério dos Hidrocarbonetos deve facilitar essa mudança. Ele renunciou na sexta-feira em meio a uma crise com o governo brasileiro provocada pela decisão de Soliz de assumir o controle de duas refinarias da Petrobras ¿ questão que voltará a ser discutida pelos dois países em 9 de outubro. A imprensa boliviana afirma que o novo ministro, Carlos Villegas, deve adotar um perfil mais técnico e menos político à nacionalização.
¿ Villegas pode ter mais conhecimento e habilidade para acelerar a nacionalização do ponto de vista técnico, e é disso que (o governo) precisa urgentemente ¿ afirmou o analista independente Carlos Alberto Lopez.
O vice-ministro de Comercialização do Ministério dos Hidrocarbonetos, Williams Dávila, admitiu ontem que essa nova orientação pode surgir nas negociações com as petrolíferas, mas se absteve de fazer comentários sobre uma possível postura mais moderada de Villegas.
Nacionalização é irreversível, diz porta-voz
Ainda assim, o porta-voz da Presidência, Alex Contreras, afirmou que ¿a nacionalização é irreversível e seguirá em frente, não para trás¿.
Apesar dos avanços, alguns bolivianos se perguntam se o governo Evo Morales não exagerou. O presidente também enfrenta uma maior resistência da oposição em relação à reforma constitucional.
¿ Eu apóio a nacionalização, mas o plano era ambicioso demais. A revolução de Morales não terá êxito a não ser que ocorra uma revolução das próprias companhias transnacionais, porque elas ainda têm o chicote na mão ¿ afirmou Carmen Bustillos, uma guia turística em La Paz.