Título: LULA TELEFONOU PARA FREUD DE MANHÃ E COBROU REAÇÃO RÁPIDA DE ASSESSORES
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 4

Planalto impede até entrada de jornalistas em cerimônia durante dia tenso

BRASÍLIA. Antes de embarcar para Nova York, a única providência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornada pública pelo Planalto, a respeito do escândalo do dossiê, foi uma ligação telefônica que ele fez para o amigo Freud Godoy, quando acertou sua demissão do cargo. No Palácio do Planalto, o dia foi nervoso. Lula quis informações sobre o noticiário envolvendo Freud. Dizendo-se muito preocupado, Lula decidiu que era preciso haver uma reação rápida. No telefonema, o assessor negou as acusações e a quebra de confiança.

Ainda de manhã, Freud enviou ao chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, um e-mail com seu pedido de demissão. A exoneração, a pedido, será publicada no Diário Oficial de hoje. Antes de viajar, o presidente, extremamente irritado, manifestou a assessores sua indignação com o episódio da tentativa de compra de um dossiê e voltou a determinar investigação profunda.

Os assessores especiais do presidente Clara Ant e César Alvarez ficaram irritados com os jornalistas, quando perguntados sobre o assunto. No clima de tensão que dominou o Planalto desde as primeiras horas da manhã, os repórteres credenciados foram proibidos de assistir à cerimônia de assinatura de decreto sobre entidades filantrópicas, realizada na Sala de Audiências, que fica ao lado gabinete presidencial.

Apenas imagens da cerimônia

Inicialmente estava prevista a presença dos repórteres, mas eles foram convidados a sair da sala, permanecendo apenas os fotógrafos e cinegrafistas. Enquanto a imprensa era afastada, o canal de circuito interno da Presidência e até mesmo a emissora oficial transmitiram a cerimônia. Lula não discursou e, sem a imprensa, não precisou ouvir perguntas a respeito do caso.

Assessores, aliados e petistas diziam, ao longo do dia, que o presidente jamais compactuaria com uma ação dessa natureza. Mas que Freud não faria nada sem o consentimento dele. Na avaliação de um interlocutor, seria ¿burrice¿ uma ação dessas, já que Lula tem situação mais do que confortável nas pesquisas. E de nada adiantaria também na eleição de São Paulo, onde José Serra está na mesma situação que Lula.

No meio da tarde, enquanto ainda se aguardava a entrevista do presidente do PT, Ricardo Berzoini, o governador do Acre, Jorge Viana, defendeu Freud e disse ter certeza de que o PT nacional não teve qualquer envolvimento na tentativa de compra do dossiê. À noite, Berzoini admitiu que Gedimar Pereira Passos trabalhava na campanha da reeleição.

¿ O Freud não está envolvido. Tenho 100% de certeza disso. Pessoas ligadas ao presidente ou do comando da campanha não têm risco de estar vinculados a isso. O presidente abomina qualquer coisa relativa a dossiês e está indignado com isso e acha que só prejudica o Brasil ¿ disse Viana.

Também antes da entrevista de Berzoini, outro dirigente do partido, Romênio Pereira, Secretário Nacional de Organização, afirmava que o PT não tem envolvimento com a questão da compra do dossiê e defendeu Freud Godoy.

¿ O PT não tem envolvimento nenhum. Conheço o Freud há muitos anos e não acredito que ele tem a ver com isso ¿ disse Romênio Pereira.