Título: FREUD E GEDIMAR SE CONHECERAM NA SEDE DO PT
Autor: Ricardo Galhardo e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 5

Segundo assessor especial de Lula, que nega envolvimento na compra do dossiê, ex-policial fazia investigação para petistas

SÃO PAULO. Freud Godoy, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que conheceu o ex-policial federal Gedimar Pereira Passos na sede do PT em Brasília. Segundo Freud, Gedimar trabalhava na campanha de Lula e tinha a função de checar supostas denúncias e dossiês contra Lula e o PT. Freud nega ter enviado dinheiro a Gedimar.

¿ Conheci Gedimar no PT de Brasília cerca de 25 dias atrás. A função dele é apurar denúncias e ver se são infundadas, vazias, checar a veracidade. Quem me chamou a Brasília e me apresentou a ele foi Jorge Lorenzetti, que disse: ¿Ele está aqui junto trabalhando na campanha. A gente trouxe ele para cá ¿ ¿ disse Freud ao GLOBO por telefone ontem de manhã.

Segundo ele, foram quatro encontros numa mesma semana na sede do PT e no comitê central da campanha de Lula, em Brasília. A Caso, empresa de segurança que está registrada no nome da mulher de Freud, Simone Messeguer Pereira Godoy, fora contratada para fazer uma varrição nas linhas telefônicas do comitê e Gedimar foi destacado por Lorenzetti, integrante da coordenação da campanha de Lula, para acompanhar o trabalho.

¿ No primeiro encontro fomos apresentados pelo Lorenzetti. No segundo, combinamos que o serviço seria feito no fim de semana, à noite, porque essas coisas têm que ser feitas à noite. Depois, enquanto era feita a varredura, conversamos sobre sistemas de segurança e, na última vez, cruzei com ele no PT de Brasília e nos cumprimentamos. Foi só. Nunca mais falei com ele ¿ disse Freud.

`Abin do PT¿, uma praxe do partido

A montagem de equipes para ¿desarmar bombas¿ contra candidatos do PT ou municiar a imprensa com denúncias que atinjam os adversários é uma praxe do partido. Em 2002, um bunker foi montado num escritório de advocacia em São Paulo. Entre as fontes de informações estavam servidores do Ministério Público e sindicalistas da área bancária. A equipe foi apelida de ¿Abin do PT¿ e extinta depois da eleição.

Ao GLOBO, Freud disse ter recebido pedidos de dirigentes do PT para não falar à imprensa e evitar que a crise provocada pela notícia da compra de dossiês tome mais vulto.

O assessor de Lula afirmou ter como provar que não falou com Gedimar nos últimos dias. Para isso, disse que colocaria à disposição da Polícia Federal a sua movimentação telefônica e bancária. Pouco depois de falar com O GLOBO, Freud recebeu um telefonema do presidente, que pedia explicações. Em entrevista à TV Globo, ele relatou o teor da conversa.

¿ O presidente me ligou colocando a questão da quebra de confiança. Respondi que se o problema para ele governar e fazer campanha for este, pode botar a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo. Tenho como provar que não tenho nada com isso ¿ disse Freud.

No início da tarde ele decidiu entregar o cargo na Presidência. Ele trabalhava com Lula desde 1989, quando o petista se candidatou pela primeira vez à Presidência.

À tarde, Freud compareceu espontaneamente à superintendência da PF de São Paulo, onde ficou cara a cara por cinco minutos com Gedimar, que permaneceu o tempo todo calado sob a alegação de que seus advogados não tiveram acesso ao processo. Em seguida, Freud disse aos delegados do setor de crimes financeiros da PF ter conhecido Gedimar há cerca de dois meses, por ocasião de um serviço prestado pela empresa de sua mulher ao comitê do PT, onde o advogado trabalhava no setor de informações.

Na saída, Freud não quis falar com jornalistas e seguiu da sede da PF até o estacionamento, cerca de 150 metros, sem responder a qualquer pergunta, apenas fumando. Alegando que as denúncias de Gedimar são ¿inverídicas, absurdas e inverossímeis¿, o advogado do petista, Augusto Arruda Botelho, explicou que seu cliente falou ¿umas duas vezes com Gedimar pessoalmente e fez uns três ou quatro contatos telefônicos¿.

¿ São denúncias que se assemelham à de uma pessoa desesperada, presa numa situação difícil e que procura apontar outras pessoas. O nome Freud, até por ser um nome quase cinematográfico, parece muito fácil de falar ¿ disse Botelho, insistindo que seu cliente nunca manteve qualquer relacionamento de amizade com Gedimar.

¿ Os contatos foram só para tratar do serviço que a empresa da mulher dele prestou para o comitê do PT ¿ reiterou Botelho.

Ele negou ainda que Freud tenha deixado o cargo:

¿ Ele apenas pediu afastamento temporário até que as investigações sejam concluídas.

Freud chegou à sede da PF por volta das 14h30m. Aos jornalistas, disse que estava ali ¿por livre e espontânea vontade¿ e que o presidente Lula não tinha dado qualquer tipo de orientação em relação ao seu depoimento. Botelho não soube informar o teor da conversa entre Freud e Lula.

¿ Nem sabia que ele tinha conversado com Lula.

Segundo o advogado, o comparecimento de seu cliente à PF era voluntário.

¿ Ele tomou conhecimento pela imprensa de que seu nome estava sendo ventilado nessa investigação e optou por livre e espontânea vontade comparecer à Polícia Federal ¿ disse o advogado, que também não teve acesso ao processo.