Título: A FAMÍLIA VEDOIN SE DISPÔS A VENDER AO PT INFORMAÇÕES GRAVES QUE ENVOLVEM NÃO SÓ POLÍTICOS DE OUTROS PARTIDOS, MAS DO PRÓPRIO PT¿
Autor: Alan Gripp e Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 10

A seguir, a íntegra do depoimento do advogado Gedimar Pereira Passos ao delegado Edmílson Pereira Bruno, da Polícia Federal, sexta-feira:

Nome: Gedimar Pereira Passos.

Sexo: Masculino.

Pai: Valdemar Aires Passos.

Mãe: Gedita Pereira Passos.

Data de nascimento: 15/2/1956.

Naturalidade: Monte Alegre do Piauí (PI).

Estado Civil: Casado.

Profissão: advogado

Residência: Sobradinho, Distrito Federal

Inquirido (a) pela autoridade policial, respondeu: que foi surpreendido com pouco mais de setecentos mil reais por policiais federais no interior do hotel Ibis, mais precisamente no quarto 479, nas imediações do aeroporto de Congonhas; que quanto à procedência do dinheiro o mesmo faz parte de um montante que seria negociado com a compra de informações a respeito da dita ¿Operação Sanguessuga¿, a qual envolve entes políticos da União, estados e municípios; que, explanando sobre os fatos, tem a dizer que foi contratado pela Executiva Nacional do PT para advogar no sentido de fazer uma análise jurídica da documentação que seria transacionada com a família Vedoin; que a família Vedoin se dispôs a vender ao PT informações graves que envolvem não só políticos de outros partidos, mas também políticos do próprio PT; que tais informações referiam-se não só ao caso ¿Sanguessuga¿, mas outros que o declarante desconhece; que os Vedoin utilizaram-se de um militante do PT chamado Valdebran Carlos Padilha da Silva para se aproximar da Executiva Nacional do PT e oferecer as informações em troca de vinte milhões de reais; que inicialmente apresentaram um rol de cerca de quinhentas prefeituras que ao longo dos anos negociaram com a família as ditas ambulâncias; que houve interesse por parte do PT em negociar as informações, entretanto o valor cobrado estava fora do alcance do partido; que os Vedoin baixaram em segundo plano para R$10 milhões e em último plano para R$2 milhões; que mesmo os dois milhões estavam fora do caixa do PT, para tanto ofereceram a uma importante revista de circulação nacional à sociedade da compra das informações; que não sabe dizer se é a revista ¿Isto É¿ ou ¿Época¿ ou mesmo um grande jornal de São Paulo; que houve a iniciativa por parte dos Vedoin tendo em vista que a família teve seus bens bloqueados pela justiça e necessitavam de recursos urgentes para custearem seus advogados e o tratamento de uma pessoa enferma na família; que houve um acordo entre o PT e o órgão de imprensa e chegaram a reunir pouco menos de dois milhões de reais; que ficou acertado que uma equipe de jornalistas se deslocariam a Cuiabá para realizarem uma entrevista exclusiva com os Vedoin que diriam sobre um arsenal de documentos que seria entregues à Justiça Federal e à Procuradoria Federal complementando o esquema ¿Sanguessuga¿; que, em suma, os Vedoin para corroborarem com a delação premiada cederiam à justiça uma farta documentação e concomitantemente convidariam membros da CPMI para se assuntarem sobre o feito e ainda cederiam uma entrevista coletiva ao órgão de imprensa; que deixa claro que ao mesmo tempo teriam acesso as informações: a justiça, o partido do PT e o órgão exclusivo da imprensa; que Darci Vedoin e seu filho Luis Antonio chegaram a protocolizar na justiça uma petição apresentando a documentação a que se comprometeram e ainda concederam a entrevista aos jornalistas; que foram mostrados aos jornalistas vários documentos, no entanto não foram repassados aos mesmos; que só seriam entregues mediante o pagamento de dois milhões; que nesse momento Valdebran já estava em São Paulo (SP) de posse de R$1 milhão, e aguardando o outro milhão restante; que Valdebran disse que um emissário a mando dos Vedoin viria resgatar todo o dinheiro; que ocorre que a documentação mostrada aos jornalistas e aquela que foi protocolizada na Justiça se resumia em fatos já de conhecimento da sociedade em geral, que se tornaram de pouca importância ao PT e ao órgão de imprensa; que como os Vedoin estavam interessados em receber o restante do dinheiro se apressaram e ainda na cidade de Cuiabá entregaram um CD-ROM que afirmavam que continha toda a documentação prometida; que os jornalistas ao chegarem em sua base verificaram que o CD nada continha; que acredita que houve uma troca de informações entre o PT e a imprensa no sentido de reverem a situação já que haviam dado a Valdebran, pessoa de confiança dos Vedoin, R$1 milhão; que questionou Valdebran sobre o CD vazio; que Valdebran manteve contato telefônico com Luis ou Darci Vedoin dizendo sobre a falha por parte deles em fornecer um CD sem as informações prometidas; que Valdebran ficou incumbido de receber cerca de R$700 mil para repassar aos Vedoin assim que eles entregassem os documentos que gerariam cerca de duas mil páginas e ainda o CD completo; que o declarante recebeu na noite de ontem, através de uma pessoa desconhecida, cerca de R$715.800, sendo que deste total inclui US$139 mil convertidos em reais, que seriam entregues a Valdebran, desde que o mesmo apresentasse a aludida documentação; que caberia ao declarante analisar a documentação que seria apresentada por Valdebran, ou seja, analisaria se a documentação era idônea e com as informações suficientes que justificassem o pagamento de todo aquele dinheiro; que, no entanto, tudo estaria certo na manhã de hoje, quando então foi surpreendido por policiais federais que já haviam detido Valdebran juntamente com um milhão de reais; que o declarante declinou de pronto aos policiais federais que estava de posse de pouco mais de setecentos mil reais que seriam revertidos a Valdebran assim que ele apresentasse os documentos que seriam trazidos por um emissário dos Vedoin; que ao que sabe Valdebran não levaria o dinheiro diretamente a Cuiabá para ser entregue aos Vedoin; que caberia a este emissário trazer os documentos a Valdebran e pegar do mesmo todo dinheiro e repassá-lo aos Vedoin; que embora Valdebran seja um militante antigo do PT, também faz parte da amizade dos Vedoin; que Valdebran deixou claro ao declarante que não levaria o dinheiro para Cuiabá; que foi o declarante que entregou a Valdebran R$1 milhão no momento em que foi iniciada a entrevista entre os Vedoin e a imprensa; que o restante só seria entregue quando os jornalistas recebessem a documentação a eles mostrada, entretanto, os Vedoin disseram que não dariam a documentação, e sim somente quando recebessem o restante do dinheiro; que tudo isso no dia de ontem; que hoje seria o dia em que a documentação viria de Cuiabá (MT) e seria analisada pelo declarante, que após análise, se positiva, repassaria o resto do dinheiro do Valdebran; que quer esclarecer que foi aceito pelos Vedoin o valor de pouco mais de um milhão e setecentos mil reais; que indagado sobre quem do PT deu ao declarante a missão de realizar o pagamento do dinheiro dos emissários dos Vedoin em troca dos informações pactuadas disse que: ¿que foi a mando de uma pessoa de nome Froude ou Freud, que segundo consta tem uma empresa de segurança no Rio de Janeiro e em São Paulo, que não sabe se o dito cujo é pessoa influente ou não dentro do PT; que melhor aclarando a negociação com os Vedoin iniciou-se com a regional do PT em Cuiabá, a qual pediu orientação da Executiva Nacional do PT; que o primeiro milhão de reais recebeu na manhã de ontem, por volta das 6h, no interior do estacionamento do hotel Ibis de uma pessoa branca, com aproximadamente 45 anos, cabelos negros carapinha, que não declinou o nome, que estava no interior de um táxi; que a segunda parte do dinheiro recebeu na noite de ontem, por volta das 23h30m, de uma pessoa de nome André, de cor branca, com aproximadamente, 1,75m, cabelo castanho curto, com aproximadamente 45 anos. E mais não disse, nem lhe foi perguntado, nada mais havendo, mandou a autoridade policial encerrar o presente termo, que depois de lido e achado conforme vai devidamente assinado por todos, e inclusive por mim, Gil Vieira de Ávila Ribeiro, escrivão de polícia federal, que o lavrei.