Título: DINHEIRO APREENDIDO PELA PF TEM NOTAS EM SÉRIE
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 13

Polícia abre inquérito só para apurar origem das cédulas. Suspeita maior recai sobre doleiro e empresa de factoring

BRASÍLIA e CUIABÁ. A Polícia Federal descobriu que parte do dinheiro apreendido com o empresário Valdebran Padilha e o advogado Gedimar Passos é composta por notas de dólares e reais seriadas. Com a pista, a polícia acredita que pode chegar mais rapidamente à origem do dinheiro. A primeira suspeita é que os recursos tenham sido sacados numa instituição financeira, por intermédio de um doleiro ou de uma empresa de factoring, antes de chegar às mãos de Padilha e Passos.

Ontem, a PF de Cuiabá abriu inquérito para apurar a origem dos R$1,7 milhão apreendidos em São Paulo. Já o conteúdo do dossiê contra os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin, será investigado pela PF no inquérito-mãe da máfia dos sanguessugas, que apura todas as fraudes cometidas pela quadrilha na venda de ambulância superfaturadas.

Segundo agentes federais que participam da investigação, as fotos e vídeos mostrando Serra e Alckmin em solenidades de entrega de ambulâncias compradas pela Planam, principal empresa da máfia, a princípio não os envolve com as fraudes praticadas pela quadrilha. A investigação da PF irá se concentrar na denúncia de que o empresário Abel Pereira atuava no ministério para facilitar a liberação de recursos para a compra de ambulâncias da Planam.

¿Não vamos cometer os mesmos equívocos¿

Por segurança, as notas de reais apreendidas pela PF foram depositadas ontem numa agência da Caixa Econômica Federal. Os dólares foram levados para o Banco Central. A cúpula da PF decidiu que não vai permitir a divulgação das fotos do dinheiro, apesar da pressão de alguns líderes da oposição. O inquérito está sob segredo de Justiça e a PF diz que não ajudará grupos políticos a criar versões contra adversários durante a eleição.

¿ Não vamos cometer os mesmos equívocos da administração anterior no caso Lunus ¿ disse um delegado da PF.

No início de 2002, policiais e procuradores da República facilitaram a divulgação de uma das fotos do R$1,3 milhão apreendido na Lunus, escritório de Jorge Murad, marido da senadora Roseana Sarney (PFL-MA). A divulgação da foto dinamitou a candidatura presidencial de Roseana, que liderava na disputa. A senadora desistiu de concorrer à Presidência e o PFL rompeu a aliança que mantinha com o PSDB.

COLABOROU Alan Gripp (enviado especial)