Título: GRAMPO SERIA USADO PARA PRESSIONAR MINISTROS
Autor: Elenilce Bottari e Maia Menezes
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 16

Presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, diz não acreditar que a Polícia Federal consiga descobrir autoria

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco Aurélio de Mello, afirmou ontem que os grampos encontradas nos telefones usados por três dos sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teriam como objetivo conseguir informações para pressionar os ministros da Casa. O presidente do TSE acha que será muito difícil chegar à autoria da escuta telefônica. Segundo ele, este tipo de crime é sempre muito dissimulado:

- Não sabemos qual a origem em si, mas a finalidade só pode ser única, ver se levanta alguma coisa para pressionar. Se isto partiu da iniciativa privada é condenável. Se do Estado latu senso, não estou aqui a me referir a esse ou àquele dirigente, merece excomunhão maior.

Para o ministro, o envolvimento de partidos no grampo seria inimaginável:

- O envolvimento de um partido político no caso encerrará a excepcionalidade, a extravagância, a teratologia (estudo das monstruosidades), o absurdo.

Ministro da Justiça diz que PF abriu inquérito

Durante cerimônia de entrega da restauração dos móveis da primeira sede do Supremo Tribunal Federal (STF) no Rio, onde hoje funciona o Centro Cultural da Justiça Federal, a presidente do STF, ministra Ellen Gracie, disse considerar grave o episódio do grampo:

- É muito sério que qualquer pessoa, qualquer cidadão brasileiro seja bisbilhotado indevidamente. Mais sério ainda quando se trata especificamente de ministros que têm um cargo de zelar sobre o processo eleitoral que está se desenrolando. Vamos deixar que as apurações sejam feitas. Elas vão ser feitas e vamos chegar a alguma conclusão.

A ministra contou que conversou por telefone na manhã de domingo com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e que ele afirmou que instauraria imediatamente inquérito para apurar a autoria do crime. A ministra afirmou não se preocupar com a hipótese de ter o telefone grampeado:

- Eu propriamente não me preocupei, mas tudo é possível. Até no gabinete do presidente da República há algum tempo atrás havia sido encontrado um grampo.

A ministra assegurou que o caso não porá em risco o processo eleitoral:

- Eu não vejo nenhum comprometimento ao processo eleitoral. Estamos em um regime democrático e as investigações serão feitas e os resultados transmitidos à população.

OAB acredita que objetivo era fraudar eleições

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, afirmou que o grampo só pode servir a quem tem interesse de fraudar as eleições:

- Está interessado nisso quem está disputando o pleito de forma ilícita. Obviamente quem está disputando a eleição sem interesse em fraudar não há interesse no grampo.

Segundo o presidente da Ordem dos Advogados, o Brasil vive um de seus momentos políticos mais dramáticos, com descrédito de suas instituições em razão de escândalos:

-- É lamentável que isso ocorra em época eleitoral. Mas, de fato, isso não se justifica em época alguma. Fazer grampo em ministros do TSE é algo inimaginável em um país moderno como o Brasil, em uma época dessa. As punições devem ocorrer. É o descalabro do país, das instituições. Não se respeita mais nada. Será que o Brasil perdeu sua compostura? Não podemos admitir uma coisa dessas. O governo vai ter que justificar sua atuação na segurança.

É uma afronta à democracia, à República, à Casa da Justiça Eleitoral.

ATHAYDE FONTOURA FILHO, diretor-geral do Senado,

É muito sério que qualquer pessoa, qualquer cidadão brasileiro seja bisbilhotado indevidamente. Mais sério ainda quando se trata especificamente de ministros que têm um cargo de zelar sobre o processo eleitoral que está se desenrolando.

Ellen Gracie, presidente do STF

Evidentemente que quem está disputando as eleições sem fraudar a legislação não tem interesse algum em grampear telefone de ministro.

Não se respeita mais nada. Será que o Brasil perdeu sua compostura? Não podemos admitir uma coisa dessas.

ROBERTO BUSATO, presidente nacional da OAB