Título: BUROCRACIA É ENTRAVE ATÉ PARA GRANDES BANCOS
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O País, p. 19

Instituição que abalou o mercado com o "lulômetro", em 2002, espera que novo governo priorize simplificação

Nem mesmo o poder de fogo do mercado financeiro está imune ao excesso de normas do Brasil. Paulo Leme, diretor de Mercados Emergentes do Goldman Sachs, um dos mais antigos e influentes bancos de investimento do mundo, nega que a burocracia esteja impedindo a abertura de uma agência do banco no país, como circula no mercado. Mas admite que o processo aqui é complexo e exige mais tempo do que em outras economias. Por isso, independentemente de quem seja eleito, o diretor da instituição que em 2002 abalou o mercado com o "lulômetro" espera a inclusão da desburocratização entre as prioridades do novo governo.

- O mundo passou a ser muito mais competitivo e, além de oportunidades, os empresários premiam países que visam simplificar o trâmite e a abertura de negócios. Veja, nesse relatório do Banco Mundial, que países como a China têm galgado pesquisas ao reduzir seus custos administrativos para atrair negócios. Há muito que pode ser feito e sem exigir reformas constitucionais no Congresso para reduzir a burocracia - disse por e-mail, Leme, de Washington.

Especialista defende reforma tributária

O Goldman Sachs foi a instituição que criou em 2002 o chamado "lulômetro", conjunto de projeções de taxas de câmbio para o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva ou de José Serra. Na época, o relatório provocou a elevação do dólar e criou turbulência no mercado.

Leme se referiu ao relatório recente do Banco Mundial segundo o qual o Brasil ocupou, em 2006, o 121º lugar no ranking de 175 países analisados por seu ambiente de negócios. No primeiro lugar ficou Singapura e, no último, a República Democrática do Congo. O Brasil ficou muito mais perto deste do que daquele país: melhor colocado do que Suriname e pior do que a Albânia.

- Uma reforma tributária seria outra medida que, ao simplificar nossa complexa estrutura de impostos, não só reduziria a carga tributária como também diminuiria os custos administrativos de dar seguimento a tantos impostos - opina Leme.

Segundo ele, menor custo se traduz em maiores lucros e rentabilidade, aumentando a atratividade de um país como pólo de investimentos diretos.

- Isso é essencial para complementar a poupança interna, para financiar investimentos e crescimento. Hoje, dois dos vários obstáculos ao crescimento são a baixa taxa de poupança interna e o nível relativamente baixo de investimentos.

Melhoria do país no item de fechar firmas

Entre um conjunto de dez itens considerados para avaliar se em determinado país é fácil ou difícil abrir uma empresa, o Brasil piorou sua posição em oito, como abertura de empresas, obtenção de licenças e pagamento de tributos. Melhorou só nos conjuntos de regras e custos para empregar trabalhadores e fechar firmas. No geral, passou da 122ª posição em 2005 para a 121ª em 2006.

- O governo tem que trabalhar na simplificação da regulamentação e introduzir o estudo desses mecanismos na grade de ensino das escolas - analisa o consultor do Banco Mundial Ricardo Neves.

Neves está concluindo uma trilogia intitulada "Renascença Digital", em que analisa as mudanças da sociedade industrial para a digital e aborda o problema da insuficiência de emprego no mundo moderno. Segundo ele, a perspectiva do estudante no Brasil sempre foi ter um emprego, mas isso está mudando.

- Tenho sido abordado por jovens de 16 a 22 anos que diante das limitações do mercado de trabalho planejam criar seus próprios empreendimentos.

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