Título: OIT ELOGIA ESFORÇO PARA CONTER TRABALHO ESCRAVO
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 19/09/2006, Economia, p. 31

No Rio, 50 viviam em condições degradantes vendendo redes vindas do estado da Paraíba

BRASÍLIA e RIO. O chefe do Programa de Combate ao Trabalho Escravo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Roger Plant, elogiou ontem os esforços do governo brasileiro para erradicar essa prática no país. Segundo ele, o Brasil foi a primeira nação latino-americana a reconhecer a existência do trabalho escravo e a adotar mecanismos interministeriais para combater esse tipo de crime. Mas Plant recomendou o aperfeiçoamento da ação conjunta entre Executivo e Judiciário para garantir a punição dos exploradores e exigir a compensação às vítimas, além da adoção de programas sociais de reinserção dos trabalhadores resgatados da escravidão.

- A única forma de erradicar o trabalho escravo é ter uma combinação de prevenção, identificação e proteção das vítimas, repressão e reintegração por meio de programas de redução da pobreza - disse Plant, destacando que essa diretriz é algo que vale para todos os países.

Essas são recomendações que ele dará na Conferência Inter-Regional sobre Sistemas de Justiça e Direitos Humanos, organizada pelo Conselho Britânico, que começa hoje, com a presença de representantes de dez países. Segundo Plant, existem no mundo 12,4 milhões de pessoas submetidas ao trabalho escravo, sendo que 10,5% - ou seja, 1,3 milhão - estão na América Latina e no Caribe. A maior parte, no entanto, está na Ásia: 9,5 milhões de pessoas.

Plant também alertou que, embora já esteja assimilada no Brasil a existência de trabalho escravo nas regiões Norte e Nordeste - especialmente nos estados de Pará, Tocantins e Maranhão -, a OIT tem recebido cada vez mais denúncias sobre outro tipo de aberração: o trabalho forçado de imigrantes, como bolivianos e paraguaios, que vêm ao país devido à maior oferta de empregos em estados como São Paulo.

Agentes do Ministério do Trabalho fizeram ontem uma operação no Rio e encontraram cerca de 50 trabalhadores paraibanos em regime de escravidão na Favela do Catiri, em Bangu. Eles revendiam redes produzidas na fábrica Vitória de Tecelagem, na cidade de São Bento da Paraíba, a 400 quilômetros de João Pessoa.