Título: À ESPERA DA FUMAÇA BRANCA NAS NAÇÕES UNIDAS
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O Mundo, p. 34

Discussão sobre sucessor de Kofi Annan domina as conversas nos bastidores em Nova York

NOVA YORK. As apostas correm soltas. A contagem regressiva para Kofi Annan já começou, e a escolha do novo secretário-geral dominará as conversas de bastidores entre os líderes políticos reunidos esta semana em Nova York. A guerra dos sexos, pela primeira vez, chega à disputa pelo comando da ONU, e sexta-feira a presidente da Letônia - Vaira Vike-Freiberga - entrou nessa briga, com o argumento de que já estava na hora de uma mulher ocupar o gabinete do 38º andar do prédio das Nações Unidas.

Mas até agora, o candidato mais votado nas duas sondagens feitas no Conselho de Segurança é Ban Ki-moon, ministro das Relações Exteriores da Coréia do Sul. Quinta-feira, o sul-coreano recebeu 14 dos 15 votos dos países-membros do conselho, o fórum encarregado de apresentar à Assembléia Geral o nome do sucessor de Annan. Pelos corredores da ONU, circula a informação de que Estados Unidos ou China teriam votado contra, e isso acabaria com as possibilidades do candidato, já que os dois países têm direito a veto.

- Até agora não apoiamos nenhum dos candidatos. Ainda estamos à procura do melhor atleta - disse um alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, num encontro com jornalistas.

São mencionados ainda o indiano Shashi Taroor, subsecretário para Informação Pública da ONU; o tailandês Surakiart Sathirathai, primeiro-ministro adjunto; o príncipe jordaniano Zeid al-Hussein, embaixador na ONU e primo do rei Abdullah; Jayantha Dhanapala, especialista em questões de desarmamento e assessor do governo do Sri Lanka; e Chan Heng Chee, embaixadora de Cingapura na ONU. Mas o nome do sucessor de Annan pode não estar nesta lista.

Ainda não surgiu o nome de consenso, dizem os especialistas. Esta semana, representantes dos cinco membros permanentes do conselho vão se reunir para discutir a sucessão e confirmar que na nova sondagem, marcada para o dia 28, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia usarão bolinhas vermelhas para indicar seus candidatos, deixando claro quem passou pelo teste do veto e ainda tem chances de chegar a secretário-geral.

A eleição na ONU, apesar de tentar ser transparente, segue um ritual quase tão cheio de meandros quanto o da escolha do Papa. Não há data para a fumaça branca sair das chaminés do prédio de Nova York, mas os Estados Unidos estão pressionando para uma decisão ser tomada no próximo mês, algum tempo antes do dia 31 de dezembro, quando se encerra o mandato de Annan. Pela tradição, é a vez de um asiático assumir o comando da organização, mas EUA, Reino Unido e França já indicaram que podem virar a mesa se um grande nome aparecer em outras paragens. Falou-se muito na possibilidade de o ex-presidente Bill Clinton se tornar secretário-geral, mas todos garantem que não há clima para mais um americano assumir uma organização multilateral. (H.C.)