Título: CHIRAC É CONTRA SANÇÕES AO IRÃ
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 19/09/2006, O Mundo, p. 34

Presidente da França sugere abrandarem as exigências a Teerã

NOVA YORK. Na véspera da abertura da Assembléia Geral da ONU, o presidente da França, Jacques Chirac, fez uma declaração que pode dividir o grupo das potências que negocia com o Irã a suspensão de seu programa nuclear. Chirac sugeriu aos países envolvidos que aceitem que Teerã se limite a suspender suas atividades de enriquecimento de urânio somente durante o período das negociações e que não levem a questão para votação de sanções no Conselho de Segurança.

- Em primeiro lugar, temos de estabelecer uma ordem do dia para a negociação. Durante esse tempo, sugiro que os seis (países negociadores) renunciem a transmitir o caso ao Conselho de Segurança e que o Irã suspenda suas atividades de enriquecimento de urânio durante o tempo que levar a negociação. Não acredito em soluções que não envolvam o diálogo, um diálogo levado até o seu limite. Nunca sou favorável a sanções. Nunca observei que sanções tenham sido eficazes - declarou Chirac.

Esta é a primeira vez que um dirigente europeu diz claramente que a suspensão do enriquecimento de urânio não é uma condição à abertura de negociações sobre o programa nuclear iraniano.

Na quinta-feira, o governo americano havia novamente imposto uma suspensão das atividades de enriquecimento como condição para qualquer negociação.

Chirac descarta encontro com presidente do Irã

Segundo analistas, o levantamento da ameaça de sanções é indispensável para instaurar um clima de confiança para o entendimento:

- Trata-se de uma tentativa de sair da crise, sendo que a estratégia do Irã tem se revelado proveitosa até agora. Os europeus estão considerando que Teerã acabou ganhando sua aposta nuclear, e que o programa iraniano está se tornando irreversível pela ausência de uma solução rápida e de uma verdadeira determinação americana - avaliou o cientista político Frederic Tellier, especialista em Irã.

Também ontem, o diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA), Mohammed ElBaradei, declarou que ainda esperava "a abertura de uma negociação entre o Irã e a União Européia".

A política nuclear do Irã será um dos principais assuntos nesta semana em Nova York durante a Assembléia Geral. As declarações de Chirac deixam ainda mais divididos os países que tentam negociar a questão. Os Estados Unidos pedem sanções e não descartam uma ação militar. China e Rússia são contrárias à aprovação de punições e a qualquer tipo de intervenção. Os europeus estão entre essas duas posições, mas defendem o diálogo.

O presidente francês, no entanto, descartou qualquer reunião com o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, considerando que "não há condições para um diálogo particular", devido às declarações polêmicas do dirigente iraniano, que prega abertamente a destruição de Israel.

- Quero deixar claro que não me proponho a negociações particulares, assim como não descarto totalmente eventuais sanções. Mas acho que, se forem necessárias, tais sanções deveriam então ser moderadas e adaptadas. Evitar que isso aconteça, no entanto, é a melhor forma de sermos bem-sucedidos nas negociações.

Na contramão das declarações de Chirac, o porta-voz do governo iraniano, Gholamhossein Elham, disse ontem que houve uma "certa confusão" em torno da proposta de seu país de suspensão temporária do enriquecimento de urânio:

- Não chegamos a qualquer conclusão a respeito do assunto.