Título: Amigo dos tempos de sindicato já foi acusado de produzir dossiês políticos
Autor: Henrique Gomes Batista e Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 4

No governo até mês passado, Osvaldo Bargas é casado com secretária de Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Osvaldo Martins Bargas, petista histórico de 56 anos, é amigo de Lula e entrou no governo na primeira hora - de onde só saiu em mês passado, para escrever o capítulo de trabalho do programa de governo da reeleição. Bargas foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo quando Lula era o presidente da entidade, nos anos 80. É casado com a secretária particular do presidente Lula, Mônica Zerbinato, que ontem trabalhou normalmente no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Além de conhecido pela proximidade com o presidente, Bargas, considerado falastrão e calmo, já foi acusado outras vezes de criar dossiês contra políticos. Na campanha de 2002, teria articulado a produção de denúncias contra Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, na época candidato a vice na chapa de Ciro Gomes.

Sua carreira pública foi forjada no movimento sindical. Começou como metalúrgico em 1971, mas foi ao entrar para a Volkswagen, em 1978, que a veia sindicalista ficou mais forte. Conheceu Lula no auge do movimento sindical e nos primórdios do PT. São amigos desde então. Em 2002, por exemplo, depois de Lula eleito, poucos tinham autorização para subir ao apartamento do presidente, em São Bernardo do Campo. Ele tinha.

Foi presidente do PT de Santo André e participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde teve vários cargos. Foi secretário-geral na gestão de Jair Meneguelli, que sucedeu Lula na presidência da central. No movimento sindical manteve os laços com Lula e reforçou a relação com Ricardo Berzoini, presidente do PT, oriundo do sindicato dos bancários. Atuaram juntos na CUT, no PT e no Ministério do Trabalho.

Mônica Zerbinato é secretária pessoal de Lula desde o tempo do Instituto da Cidadania. Discreta e fiel, é responsável por seus compromissos não-oficiais, inclusive familiares. Alguns petistas tentaram afastá-la depois da posse porque sabiam ser essa a chave da intimidade do presidente. Não conseguiram.

No Ministério do Trabalho, 2 titulares saíram; ele ficou

No início do governo, Bargas entrou no Ministério do Trabalho com o então ministro Jaques Wagner, como secretário de Relações do Trabalho e coordenador da reforma sindical, bandeira da campanha depois abandonada. Houve duas trocas de ministro, mas Bargas manteve-se no ministério. Em 14 de fevereiro deste ano, deixou a secretaria de Relações do Trabalho para assumir a chefia do gabinete do atual ministro da pasta, o também "cutista" Luiz Marinho. Saiu do ministério no dia 2 de agosto, para escrever o capítulo de trabalho do plano de governo para o eventual segundo mandato.

Natural de Lucélia, interior paulista, ele é um dos fundadores da Associação dos Anistiados do ABC, entidade da qual Lula também é associado. Bargas assinou o Termo de Adesão para receber os R$340 mil de atrasados a que tem direito de indenização por perseguição política na ditadura. A concessão do direito (o dinheiro ainda não foi pago) foi autorizada em tempo recorde, apenas cinco meses, enquanto que em alguns casos as indenizações demoram dez anos para ser concedida.

Esse termo é assinado junto ao Ministério do Planejamento. Todos os anistiados com direito a atrasados estão aderindo. O governo vai escalonar o pagamento desse dinheiro em até nove anos. Ele foi cassado com base na Lei de Segurança Nacional e terá direito ainda uma indenização mensal, como anistiado político, de R$4.374,96.

Sua origem sindical fez com que tivesse estreita relação política com figuras como Jorge Lorenzetti, apontado como um dos negociadores do dossiê contra Serra. Bargas é muito ligado ainda a Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, também vindo do movimento sindical.

COLABORARAM: Chico de Góis e Evandro Éboli

'Bargas disse que o presidente do PT havia sido avisado'

A seguir, a íntegra da nota da revista "Época":

"Esclarecimento

Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Gedimar Pereira Passos - que afirma ter sido contratado pelo PT para negociar um dossiê com denúncias contra o candidato José Serra - citou a revista 'Época'. Diante dessa citação, 'Época' gostaria de esclarecer que:

1) Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho, atual responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula, procurou há duas semanas o jornalista Ricardo Mendonça, de 'Época'. Ele pediu um encontro com o repórter.

2) O encontro foi marcado para uma suíte do hotel Crowne Plaza, em São Paulo, no final da tarde do dia 6 de setembro. Nessa reunião estava presente também Jorge Lorenzetti, analista de risco e mídia da campanha de Lula. Bargas afirmou ter sido procurado por alguém que tinha denúncias sérias contra políticos de renome. As acusações, segundo ele, poderiam ser comprovadas por meio de fotos, vídeos e de uma 'farta documentação'. Bargas perguntou se havia interesse da revista em publicá-las.

3) O repórter de 'Época' disse que tinha interesse em conhecer o teor das denúncias, mas não se comprometeria a publicá-las. Isso dependeria de uma investigação sobre a relevância e a consistência das acusações.

4) Bargas afirmou não ter nada para mostrar naquele momento. Disse que não podia especificar quais eram as denúncias nem quem era o denunciante. Diante da insistência do repórter, ele disse apenas que as denúncias seriam fortes o suficiente para desmoralizar o candidato do PSDB ao governo do estado de São Paulo, José Serra, e o ex-ministro da Saúde Barjas Negri.

5) Durante o encontro, Bargas e Lorenzetti disseram várias vezes que aquela reunião nada tinha a ver com o PT nem com o governo. Aquele encontro, segundo eles, servia apenas para sondar o interesse de 'Época'. Bargas afirmou que Aloizio Mercadante, concorrente de Serra na disputa pelo governo de São Paulo, não sabia das denúncias nem da reunião. Disse ainda que, no PT, apenas o presidente do partido, Ricardo Berzoini, havia sido avisado do encontro com o repórter para passar informações de interesse da campanha. Berzoini, segundo Bargas, não tinha conhecimento do conteúdo do material.

6) No final da reunião, que durou cerca de 30 minutos, Bargas disse que voltaria a falar com o denunciante e depois entraria em contato com o repórter.

7) Naquela mesma noite, Bargas telefonou para avisar que o denunciante voltara atrás e não queria mais apresentar o material, nem dar entrevista. Uma semana depois, a revista 'IstoÉ' publicou a entrevista em que Darci e Luiz Antonio Vedoin, os donos da Planam, acusavam Serra e Barjas Negri".

Inclui Quadro [A indenização para o anistiado político]