Título: AS MUITAS SEMELHANÇAS COM O MAIOR ESCÂNDALO POLÍTICO DA HISTÓRIA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 8
Caso Watergate envolveu eleição e espionagem e teve a participação de integrantes da Casa Branca de Nixon
Não bastasse seu conteúdo explosivo, a mais nova confusão da Era Lula guarda semelhanças inquietantes com o maior escândalo político da História. A comparação entre a suposta compra de um dossiê contra candidatos tucanos e o escândalo Watergate é inevitável. Ambos os episódios envolvem eleições, espionagem e dois presidentes que sustentaram desde o início ignorar os fatos. Um deles terminou deposto.
Em junho de 1972, em plena campanha pela reeleição do republicano Richard Nixon (coincidência número 1), cinco homens foram presos de madrugada tentando invadir o escritório do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. No jornal "Washington Post", o iniciante Bob Woodward, repórter da editoria de Cidade, estava de plantão e foi apurar a história, aparentemente algo corriqueiro. Não era.
O que parecia um assalto escondia o pedaço de um plano de espionagem. Os republicanos grampearam o quartel-general adversário. Na sexta-feira, pessoas da equipe de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram flagradas tentando vender um dossiê contra o PSDB. Coincidência número 2.
Na segunda-feira, Freud Godoy, assessor especial de Lula, confessou à polícia ter estado com o advogado Gedimar Pereira Passos, preso em plena tentativa de negociar o material que ligaria os tucanos à máfia dos sanguessugas. A função de Gedimar na campanha petista era a de processar informações. Na Casa Branca de Nixon, um grupo conhecido como "The Plumbers" (Os Bombeiros) atuava na ilegalidade, inclusive usando a profissão como disfarce, em busca de fatos que pudessem comprometer os adversários eleitorais. Coincidência número 3.
Woodward investiu no assunto, formando a lendária parceria com Carl Bernstein. Um dos invasores, James McCord, era ex-agente do FBI e da CIA, a central americana de inteligência. Ele também ocupava o cargo de diretor de segurança do comitê para a reeleição do presidente. Gedimar Pereira Passos, preso na sexta-feira com parte do R$1,7 milhão, é um ex-agente da Polícia Federal. Trabalhava até o último fim de semana no comitê para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Coincidência número 4.
As investigações do arrombamento levaram a outros nomes ligados a Nixon, entre eles, John Mitchell, presidente do escritório eleitoral de Nixon e "attorney general" do governo - o equivalente americano ao advogado-geral da União. Ele autorizou as despesas para a invasão do Watergate. Ontem, o ex-secretário do Ministério do Trabalho Osvaldo Bargas, ligado ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse ter oferecido à revista "Época" o dossiê contra os tucanos. E afirmou ter aval de Berzoini. Coincidência número 5.
Apesar do escândalo, Nixon venceu com folga as eleições de 1972. Reeleito, governou sob o permanente fantasma do impeachment. O rolo compressor das investigações arrastou boa parte dos "homens do presidente". E ele, encurralado, renunciou a 8 de agosto de 1974.
Divergência número 1.