Título: Lula acusa oposição de querer 'melar' eleição
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 8

'Estou a dez dias de uma eleição altamente favorável. Por que alguém que quer me ajudar faria um ato insano desses?'

NOVA YORK. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem a oposição de querer "melar" o processo eleitoral ao associá-lo à tentativa de compra de um dossiê contra os candidatos tucanos à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo de São Paulo, José Serra. Todos os envolvidos no escândalo da compra do dossiê, porém, são ligados a petistas e até ao gabinete de Lula - e alguns foram presos pela Polícia Federal.

Lula afirmou que vai apurar a fundo as denúncias contra pessoas de sua campanha suspeitas de envolvimento:

- Primeiro, temos de levar em conta a quem interessa a essa altura do campeonato melar o processo eleitoral no Brasil.

Sem pronunciar a palavra oposição ou citar nomes, Lula disse que os golpistas são os mesmos que há dois anos fazem confusão para evitar a propagação dos bons resultados do seu governo e agora estariam jogando sujo para evitar que ele ganhe a eleição e cumpra um possível segundo mandato:

- Eu estou a dez dias de uma eleição em que a situação está altamente favorável. Por que alguém, que quer me ajudar faria um ato insano desses?

Reunião no lugar de almoço

Em Nova York desde segunda-feira à noite para discursar na abertura da assembléia-geral da ONU, Lula procurou mostrar distância das denúncias.

- A mim, como presidente da República, só cabe investigar, fazer a Polícia Federal ir a fundo para saber o que aconteceu nesse país. O que não posso permitir é que alguém tente uma insinuação contra o governo, com práticas que o governo repudia - disse.

Logo que acabou o seu discurso, ele trocou o almoço oferecido pelo secretário-geral da ONU a todos os presidentes, por uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no seu quarto do hotel Waldorf Astoria. De lá telefonou para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para pedir informações sobre o que acontecia no Brasil.

Ao comentar o escândalo do dossiê, Lula repetiu duas vezes que apurará as denúncias ,"doa a quem doer":

-- Todo mundo conhece o meu comportamento e sabe que eu considero abominável esse tipo de comportamento na política brasileira. Fico lembrando de um goleiro chileno que, na final, finge que está machucado para melar o jogo. Graças a Deus as investigações mostraram que ele estava fingindo.

O 'corte' do goleiro Rojas

A farsa montada pelo goleiro chileno Roberto Rojas na partida entre a sua seleção e o Brasil, no Maracanã, foi um dos maiores escândalos do futebol mundial. Os chilenos precisavam vencer para ir à Copa de 1990, na Itália, e eliminar o Brasil. Além do goleiro, participaram da fraude e foram punidos pela Fifa o técnico Orlando Aravena, o médico Daniel Rodríguez e o zagueiro Astengo.

O incidente aconteceu em 3 de setembro de 1989, no Maracanã, e o Brasil vencia por 1 a 0, gol de Careca. Após um foguete atirado no campo por uma torcedora, Rojas cortou o supercílio com um estilete que tinha na luva, simulando ter sido atingido. Os chilenos abandonaram o campo.

Inclui Quadro [A quem interessa? - Detalhes sobre os personagens envolvidos nos escândalos do governo Lula]