Título: Justiça Federal de MT nega prisão de assessor
Autor: Alan Gripp e Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 12

Argumento para negativa inclui o fato de que ex-assessor de Lula apresentou-se espontaneamente para depor

CUIABÁ. O Ministério Público Federal pediu mas a Justiça Federal de Mato Grosso negou ontem pedido de prisão temporária de Freud Godoy, assessor especial da Presidência da República suspeito de participar da operação de compra do dossiê contra os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin. O pedido de prisão foi feito pelo procurador da República do Mato Grosso Mário Lúcio Avelar, mas o juiz federal Marcos Alves Tavares argumentou que Freud se apresentou espontaneamente anteontem à Polícia Federal de São Paulo para prestar depoimento e que tem endereço fixo onde pode ser localizado caso novas provas contra ele.

O nome de Freud surgiu no depoimento do advogado Gedimar Pereira Passos, preso com parte dos R$1,7 milhão que seriam usados para fechar o negócio. Gedimar contou ter sido contratado pela executiva nacional do PT e disse ter recebido de um homem chamado Freud a missão de analisar o material e fechar o negócio. Freud, que trabalhava em uma sala no Palácio do Planalto, no mesmo andar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem já foi segurança, negou envolvimento no episódio, mas entregou o cargo.

Gedimar, que também prestou novo depoimento, desta vez preferiu ficar calado e foi indiciado pelo crime de supressão de documentos. O advogado, que trabalha na área de inteligência na campanha de Lula à reeleição, foi preso sexta-feira ao ser flagrado com cerca de R$700 mil em um hotel de São Paulo. Parte do dinheiro, segundo contou no primeiro depoimento, foi usado para pagar uma entrevista do chefe da máfia dos sanguessugas, o empresário Luiz Antônio Vedoin, a uma importante revista de circulação nacional.

Antes do depoimento de Gedimar, seu advogado Cristiano Maronna já havia dado sinais de que ele poderia voltar atrás do que disse na sexta-feira. Maronna afirmou que havia divergências entre o que Gedimar declarara e o que foi divulgado pela imprensa. E insinuou que o seu cliente foi coagido.

- Ele prestou depoimento por dez horas, com diversos policiais em volta. Numa circunstância dessas, a prisão temporária acaba sendo convertida em um instrumento de tortura - disse.

Maronna, que defendeu na CPI dos Bingos o economista Vladimir Poletto, acusado de transportar para o PT dólares supostamente vindos de Cuba, reclamou do tratamento dado pela PF ao seu cliente.

- Ele tentou responder algumas perguntas, mas só determinadas respostas serviam - protestou.

(*) Enviado especial

(**)Especial para O GLOBO