Título: Lorenzetti dividiu apartamento com Delúbio
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 14

Suspeito de negociar dossiê contra tucanos admite ter extrapolado limites e é afastado do comitê de Lula

O petista e sindicalista Jorge Lorenzetti, suspeito de ser um dos operadores da compra do dossiê contra tucanos, dividiu apartamento em São Paulo com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, acusado de operar o mensalão. A informação foi dada pelo próprio Delúbio, em depoimento à CPI dos Correios, em 20 de julho do ano passado. Ontem à tarde, Lorenzetti pediu afastamento do comitê da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o catarinense chefiava um "núcleo de informação e inteligência" na campanha.

À CPI, Delúbio disse ter alugado o apartamento em 1999 com Lorenzetti, a quem se referiu como companheiro. O terceiro ocupante do imóvel era o sindicalista José Olívio Oliveira - como Lorenzetti e Delúbio, também dirigente da CUT, central ligada ao PT.

Em carta enviada ontem à direção do partido, Lorenzetti admitiu ter "extroplado os limites de suas atribuições", mas negou participação na compra do dossiê, frustrada na sexta-feira passada pela Polícia Federal. "Apresento minhas sinceras desculpas se não correspondi à confiança depositada em minha pessoa", disse o catarinense, que ficou conhecido por comandar os churrascos de Lula na Granja do Torto.

Sindicalista captava recursos para a CUT no exterior

Enfermeiro, descrito por ex-companheiros como um articulador discreto e extremamente hábil, Lorenzetti foi diretor de Formação da CUT e, no início dos anos 90, era responsável por captar recursos para a central no exterior. O sociólogo e professor da PUC-MG Rudá Ricci, que conviveu com Lorenzetti e Delúbio na CUT e no PT, disse que o catarinense promoveu a aproximação da central sindical com o ex-ministro José Dirceu.

- Lorenzetti viajava o mundo todo para captar dinheiro e financiar um grande aparelho de poder. Depois, promoveu o encontro das máquinas da CUT e do PT - conta o sociólogo, que deixou o partido em 1993.

Segundo Ricci, o prestígio de Lorenzetti, ex-professor da Universidade Federal de Santa Catarina, provocava ciúmes no PT, já que ele representava uma categoria frágil e vinha de um estado pequeno. Perto do churrasqueiro de Lula, Delúbio, um professor de matemática de escolas públicas em Goiás, seria visto na cúpula do partido como um articulador menor.

Os escândalos e seus operadores

MENSALÃO

DELÚBIO SOARES: O ex-tesoureiro do PT foi citado pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, como o homem que oferecia dinheiro para "desencravar qualquer unha" com partidos aliados: era o mensalão, o repasse de verbas a parlamentares. Delúbio fez empréstimos para o PT no BMG e no Banco Rural nos valores de R$2,4 milhões e R$3 milhões. Depois de muito negar, confessou a existência de caixa dois para financiar campanhas no PT e disse que o dinheiro bancou candidatos aliados em 2002 e 2004.

MARCOS VALÉRIO: O publicitário mineiro, amigo de Delúbio, deu nome ao valerioduto: era o homem que circulava com dinheiro para pagar a aliados do PP e PL, e ao próprio PTB, que teria recebido R$4 milhões resultantes de um acordo com o PT. Foi avalista dos empréstimos do PT com os bancos mineiros. Segundo o Coaf, as empresas SMP&B e DNA sacaram, em espécie,R$20,9 milhões entre julho de 2003 e maio de 2005. Em versão que confirmou a de Delúbio, admitiu o caixa dois, com saques para pagar débitos de campanha do PT e aliados.

DOSSIÊ DE R$1,7 MILHÃO

JORGE LORENZETTI: Fundador do PT e um dos churrasqueiros preferidos de Lula, o catarinense seria o comandante da operação do dossiê. Valdebran Padilha, preso com o R$1,7 milhão supostamente para comprar o dossiê contra os tucanos, disse que Lorenzetti o apresentou a Gedimar Pereira Passos, também detido. Dividiu apartamento com Delúbio Soares. Na campanha de Lula, chefia um núcleo de inteligência. Foi da direção nacional da CUT. Em agosto de 2005, pediu licença do Banco do Estado de Santa Catarina para se dedicar à campanha de Lula.

OSVALDO BARGAS: Na nota divulgada pela revista "Época", foi citado como um dos negociadores do dossiê com supostas denúncias contra o tucano José Serra. O sindicalista Bargas é conhecido como membro do grupo mais próximo de Lula. Também é muito ligado a Delúbio Soares. Foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos quando Lula presidia a entidade e, no atual governo, foi chefe de gabinete do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Deixou o cargo em agosto para cuidar do capítulo sobre trabalho no programa de governo de Lula.