Título: Bastos: imagens não saem para não prejudicar Lula
Autor: Cássio Bruno
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 15

Ministro da Justiça diz que oposição quer ver fotos do dinheiro apreendido para explorá-las na campanha

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem, durante a 75 ª Assembléia Geral da Interpol, no Rio, que a Polícia Federal não mostrará as imagens do R$1,7 milhão que seria usado para a compra de um dossiê com supostas denúncias contra os candidatos tucanos ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin. O dinheiro seria entregue ao chefe da máfia do superfaturamento de ambulâncias, Luiz Antônio Vedoin, detido na sexta-feira em Cuiabá. Anteontem, Bastos chegou a dizer que a PF é credora da população brasileira.

- É preciso que as pessoas saibam que o Brasil mudou. Hoje não é mais como naquele tempo que se faziam imagens para jogar na televisão e destruir candidaturas. Não vamos fazer isso neste momento - disse o ministro.

Bastos afirmou que existe uma vontade de exploração política no caso para prejudicar a campanha do presidente. Partidos de oposição vêm cobrando da PF a divulgação das fotos da apreensão do dinheiro, como a polícia tem feito em diversas outras operações.

- Existe um ilícito que tem que ser investigado com calma pela PF, pelo Ministério Público Federal e pelo Poder Judiciário trabalhando juntos. De outro lado, existe uma vontade insopitável de exploração política desse fato para gerar imagem e prejudicar claramente a campanha do presidente Lula, que está com 50% de votos (nas pesquisas). É preciso fazer essa separação - disse Bastos.

"A PF merece esse crédito"

O ministro ressaltou ainda que não se pode querer incluir o fato dentro da agenda da PF a poucos dias das eleições e "nem fazer disso uma moeda de troca eleitoral".

- Não vamos admitir. Já fizemos investigações que comprovam a impessoalidade e a lisura da PF. Ela já atingiu, inclusive nessa operação, o partido de sustentação do presidente da República, como atingiu lá atrás, muitas vezes, a questão do Banco Rural e outras questões. A PF merece esse crédito e não vai se subordinar a interesses de gente que quer prejudicar uma das campanhas - disse.

Perguntado se as mesmas investigações levariam para um esquema montado pelo PT contra o PSDB, o ministro desconversou:

- Há um caminho nessa direção. Não é o Partido dos Trabalhadores. É um grupo. Tem dois presos que contaram coisas que estão sendo investigadas. Mas não podem ser feitas na corrida.

Bastos lembrou, no entanto, que, nos últimos três anos e meio, a PF realizou quase 300 operações que desvendaram quadrilhas e desmantelaram o crime organizado:

- Sempre deram certo (as operações), sem um tiro. Foi com calma, inteligência e com planejamento estratégico.

O diretor geral da PF, Paulo Lacerda, que também participou do evento, contou que não interessa à instituição apresentar imagens relacionadas a nada. Perguntado porque havia liberado imagens de dinheiro em operações anteriores, Lacerda disse que, nesses casos, "houve um aspecto pedagógico".

- Nas outras operações, houve um aspecto pedagógico que não visava a uma situação política-eleitoral e, sim, a uma visão de toda a sociedade com um trabalho para desestimular aqueles que estavam ligados ao crime organizado.