Título: Tarso: 'Lula ficou perplexo, triste, angustiado'
Autor: Cristiane Jungblut/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 20/09/2006, O País, p. 16
Ministro diz que declarações de oposicionistas são 'bobagem golpista' e chama líderes do PSDB e do PFL de desterrados
BRASÍLIA. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que estava em Nova York discursando na Assembléia Geral das Nações Unidas - ficou "perplexo, incomodado, triste, angustiado" com o escândalo do dossiê e a suposta participação do ex-assessor especial da Presidência Freud Godoy na negociação para compra do material contra os dois principais candidatos tucanos nas eleições. Tarso defendeu ser de responsabilidade do PT explicar a ação de seus militantes e chamou de "bobagem golpista" declarações de líderes da oposição de que um segundo mandato de Lula estaria inviabilizado.
Falando antes da divulgação da nota da revista "Época" que implicava diretamente na operação o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o ministro chegou a dizer que o dirigente partidário já estava tomando providências e iria "agir corretamente neste caso". Ele afirmou que as informações que recebeu da PF eram de que o dinheiro apreendido é ilegal, e que a intenção é investigar tanto a operação como as denúncias que a motivaram:
- É necessário que a investigação seja levada a termo em dois sentidos: não somente verificando se houve montagem, compra do dossiê e também origem do dinheiro, que é muito importante; devem também ser investigadas as informações que constam do dossiê.
Em relação à participação de Freud Godoy, Tarso disse que não se poderia ser "precipitado" e condená-lo antes do fim da apuração do episódio.
Versão oficial com atraso
Tarso foi escalado pelo Palácio do Planalto para dar, com 24 horas de atraso, a posição oficial sobre o escândalo. O ministro conversou ontem com Lula por várias vezes, demonstrando o clima de tensão e total preocupação no Planalto.
- O PT vai e tem que dar explicações, porque não é possível que essas explicações sejam sonegadas e isso cause algum reflexo ao presidente e a sua candidatura. Mas essas pessoas não têm qualquer ligação com o Planalto, com o presidente ou com ordem emanada do presidente. O presidente ficou perplexo, incomodado, triste, angustiado quando soube desse assunto.
O ministro defendeu punição exemplar, "em dobro", se for comprovado envolvimento de pessoas do PT na ação antitucanos. Tarso abriu a possibilidade de a demissão de Freud ser reavaliada se ele for inocentado. Ao condenar a compra do dossiê, disse que há casos em que a compra de informações é legal. Citou o trabalho de detetives particulares, afirmando, porém, que "a compra não pode ser instrumento de calúnia eleitoral".
Respondendo diretamente à oposição sobre a fragilidade de um eventual segundo mandato de Lula, Tarso chamou os presidentes nacionais do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PSDB, Tasso Jereissati (CE), de "desterrados" da política:
- Dizer que isso pode inviabilizar um novo mandato do presidente é uma bobagem golpista, que não tem nenhum fundamento jurídico, constitucional, e é de um oportunismo delirante de pessoas que estão perdendo sua liderança política e estão perdendo as eleições.
Tarso disse que Bornhausen não teve coragem de ser candidato novamente em Santa Catarina e que Tasso perdeu o controle político do seu estado.
- Esses dois desterrados têm feito manifestações ofensivas e caluniosas ao governo e o fazem de maneira oportunista num momento eleitoral.
Dizer que isso pode inviabilizar um novo mandato do presidente é uma bobagem golpista, um oportunismo delirante de pessoas que estão perdendo as eleições
Só Fontana aparece para fazer defesa
BRASÍLIA. O envolvimento direto do presidente do PT, Ricardo Berzoini, no escândalo da compra de dossiê contra tucanos, silenciou e intimidou ontem os principais líderes do partido. Sem uma reação imediata, os petistas no Congresso resolveram mergulhar. Na Câmara, apenas o líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), apareceu para rebater as pesadas acusações da oposição. Fontana admitiu que a denúncia de compra do dossiê é grave e que é preciso investigar a origem do dinheiro, mas afirmou também não se pode deixar de investigar a gestão de José Serra no Ministério da Saúde. Para Fontana, é indispensável a convocação de Serra pela CPI dos Sanguessugas.
- Até porque a máfia das ambulâncias foi montada no governo PSDB-PFL e desmontada no governo Lula. Tem que investigar também por que o Serra foi ao galpão da Planam, como também tem que investigar quem pagou o dinheiro para comprar o dossiê - disse o líder.
TARSO GENRO, ministro das Relações Institucionais
Tem que investigar também por que o Serra foi ao galpão da Planam, como também tem que investigar quem pagou o dinheiro para comprar o dossiê
HENRIQUE FONTANA, líder do PT na Câmara