Título: POLICIAIS LIGADOS A BICHEIRO MONTAM GUARDA
Autor: Antônio Werneck/Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 20/09/2006, Rio, p. 20
Contraventor tem medo de ser morto. Segurança oficial é reforçada do lado de dentro
Depois de fugir durante três anos e três meses da Justiça e dos inimigos que colecionou por conta da disputa pelos pontos de jogo, o contraventor Rogério Costa de Andrade e Silva, preso anteontem pela Polícia Federal, está com medo de morrer na cadeia. Seus capangas montam guarda do lado de fora da prisão. Antes mesmo da chegada de Rogério à carceragem, por volta de 1h de ontem, havia três carros com policiais civis e militares que costumam fazer a segurança particular do contraventor no estacionamento do Ponto Zero. O diretor da Polinter, Alcides Iantorno, ordenou que, principalmente à noite, só os carros da polícia fiquem no local.
- Segurança só do Estado, no horário de serviço. Nada de poder paralelo - disse Alcides.
Negócios do contraventor estão desestruturados
A Polinter precisou reforçar a segurança do Ponto Zero, prisão para presos com curso superior, em Campo Grande, onde Rogério está detido, e pôs um carro com três policiais na entrada da carceragem, onde há cem detentos, sendo dez mulheres.
Com os negócios desestruturados desde que a Justiça decretou a prisão dele e de seus principais cúmplices, no processo sobre formação de quadrilha na disputa pelo controle das máquinas de caça-níqueis na Zona Oeste, Rogério só conta com mais sete pessoas de seu grupo, incluindo seus irmãos Rinaldo e Renato de Andrade, que estão foragidos. Rogério e os irmãos são sobrinhos do bicheiro Castor de Andrade, já falecido. Os demais acusados são o policial civil Wellington Diogo de Aquino, o bombeiro Luiz Henrique Santos, Paulo Cesar Ferreira do Nascimento, Gelson Braz Loureiro e Flávio da Silva Santos.
Depois da prisão do contraventor, vários pontos de bicho de Rogério foram assaltados. Segundo a polícia, Rogério teme vingança de Fernando de Miranda Iggnácio, genro de Castor de Andrade, com quem disputa os pontos e que também está foragido da Justiça.
Em seu primeiro dia na carceragem, Rogério ocupou a última vaga no Ponto Zero e almoçou a mesma comida dos outros presos: arroz, feijão, carne seca e farofa. Como não tinha cama, dormiu num colchonete num cubículo de cerca de dez metros quadrados, com um estrangeiro preso pela Polícia Federal. O contraventor só recebeu visitas de advogados. Rogério é condenado pela morte do primo, Paulo Andrade, a 19 anos e 10 meses de prisão, mas os advogados estão recorrendo em Brasília. No Rio, outro grupo tenta um alvará de soltura no processo dos caça-níqueis.
'Aqui não existe bandido inalcançável'
Para delegado, prisão de contraventor mostrou eficiência da PF
Em entrevista à Rádio CBN, o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal, delegado Victor César Santos, disse ontem que a prisão do bicheiro Rogério Andrade mostrou a eficiência da corporação. Em menos de três meses de investigação, agentes federais conseguiram capturar o contraventor que estava foragido há três anos e três meses da Justiça estadual.
- Por questão de ética, não vou questionar o trabalho dos outros, mas a Polícia Federal nesse caso trabalhou bem - disse ele.
O delegado aproveitou para mandar um recado à população:
- Não existe bandido que não possa ser capturado. Aqui não existe bandido inalcançável.
Victor César explicou que nem a mudança de aparência de Rogério Andrade, que estava de cavanhaque, cabelo comprido, óculos e lentes de contato azuis, atrapalhou o trabalho dos policiais.
- Não (atrapalhou) porque o conhecíamos bem. A expressão facial a gente grava com facilidade, mesmo se a pessoa fizer plástica. São técnicas de investigação que a gente aprende - disse.
Para prender Rogério Andrade, a PF montou uma operação especial:
- A informação que tínhamos era de que ele gostava de passar os fins de semana na Região Serrana. Por isso, montamos a operação na Rodovia Washington Luiz. Paramos carro por carro até que o encontramos - contou o delegado.
Segundo Victor César, em depoimento, Rogério negou envolvimento com a máfia dos caça-níqueis:
- Ele nega qualquer participação em caça-níqueis e jogo do bicho. É um direito do preso, mas a investigação mostra que ele participa, sim, da exploração de caça-níqueis na Zona Oeste.
Na Justiça estadual, havia dois mandados de prisão contra Rogério: um pela condenação por um duplo homicídio e outro pela guerra dos caça-níqueis. Pela PF, Rogério é investigado pelo assassinato do agente Aluízio Pereira dos Santos. A PF já tem dois suspeitos: um PM que já está preso e outro que está sendo procurado. Há indícios de que os criminosos seriam ligados a Rogério Andrade.
A contabilidade de Castor de Andrade
Rogério Andrade adotou o método empregado pelo tio, Castor de Andrade, para assegurar à família o domínio da contravenção na Zona Oeste. O pagamento de propina a policiais garantiu a Castor a criação do império, disputado atualmente por Rogério e Fernando de Miranda Iggnácio, genro do bicheiro morto em 1997.
O pagamento de propina a delegados, policiais, advogados e promotores veio à tona em março de 1994, quando um grupo de promotores e policiais invadiu a fortaleza de Castor de Andrade, em Bangu. Na casa, foram apreendidos livros de contabilidade com a lista dos beneficiados pelo pagamento de propina. A descoberta levou 54 pessoas ao banco dos réus, todos acusados de corrupção passiva.
Uma relação perigosa com a polícia