Título: A LISTA DE ROGÉRIO
Autor: Antônio Werneck/Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 20/09/2006, Rio, p. 20

Sobrinho de Castor pagava propina a PMs presos e grampo revela ligação com outros policiais

Um movimento em falso do soldado reformado da Polícia Militar Roland Hollanda Cavalcanti, segurança e contador do bicheiro Rogério Andrade, ambos presos anteontem na Rodovia Washington Luiz, levou policiais federais a apreenderem uma lista com nomes de 17 PMs detidos, sob a acusação de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. A relação foi recolhida quando Roland, ao saber que ficaria preso juntamente com o contraventor, tentou passá-la para o inspetor D'Artagnan José Ribeiro Catão, lotado na 32ª DP (Jacarepaguá). O policial civil foi à PF pegar o carro alugado em que o bicheiro e o soldado reformado estavam ao serem capturados.

Os nomes dos PMs estavam numa folha de caderno, de 30 de agosto de 2006, sob o título: "Pagamento do pessoal detido". Ao lado de cada nome, os valores que deveriam receber variavam de R$250 a R$500. O contador alerta uma auxiliar: "Ruth, pagar esta escala por quinzena". Na parte de baixo da folha, três observações. A primeira dizia: "João Carlos, ex-PM na Polinter, foi preso na filmagem das máquinas, está precisando de uma ajuda na cadeia; se possível mandar 500,00 reais mensal". A segunda pedia atenção no envio do dinheiro: "observar que o dinheiro ao pessoal preso no BEP (Batalhão Especial Prisional, onde ficam os PMs envolvidos em crimes) não está chegando para todos". E a terceira: "Apicela está no BEP precisando da mesma ajuda do João Carlos (obs. 1) 500,00".

A relação é assinada por Bispo, que, segundo a PF, seria o codinome de Roland. Uma segunda folha trazia uma relação de carros, com marcas e placas.

O delegado federal Victor Cesar Santos, responsável pelas investigações que levaram Rogério à prisão, disse que o inspetor se apresentou como cunhado de Roland:

- O policial civil foi à PF pegar o carro em que Rogério foi preso. No momento em que o PM reformado entregou as chaves, percebi que ele tentava passar também papéis. Imediatamente, fiz a apreensão.

Em ligações, bicheiro dá ordens a policiais

O delegado informou que o assunto não interessa à PF e que vai enviar à lista para a 1ª Vara Criminal de Bangu, onde há um processo sobre o envolvimento de policiais com a máfia dos caça-níqueis.

- Nós não estamos investigando caça-níqueis. Queremos chegar aos autores da morte de um policial federal, que foi executado, por engano, na guerra da contravenção, na Zona Oeste do Rio - disse Victor César

As interceptações telefônicas que levaram à prisão de Rogério, sobrinho de Castor de Andrade, mostram o bicheiro dando ordens a PMs e bombeiros aliados na guerra dos caça-níqueis. Parte da investigação sobre o assassinato, em junho, do agente Aluízio Pereira dos Santos, em Padre Miguel, as gravações revelam a atuação de agentes da lei, que recebiam de R$500 a R$2 mil para garantir a segurança e a liberdade do dono da Rio Oeste Games.

Como O GLOBO noticiou em abril, mesmo foragido, Rogério mantinha sua rotina, graças à escolta formada por policiais militares, civis, bombeiros e agentes penitenciários. Entre os principais aliados, figuram o tenente-coronel PM Ricardo Teixeira de Campos e o sargento bombeiro Antônio Carlos Macedo. O oficial e o sargento estão entre os 29 denunciados, em agosto, pelo Ministério Público, por formação de quadrilha. Entre eles, há 16 PMs, incluindo um capitão reformado, todos na lista da propina.

O processo na 1ª Vara Criminal de Bangu nasceu de inquérito da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas. Citado como chefe do bando, Rogério será ouvido em audiência na sexta-feira, no Fórum de Bangu.

O bicheiro, citado ainda em inquérito da PF por obtenção irregular de diploma, teve uma carteira de estagiário da OAB de dezembro de 1997 a dezembro de 1999. Rogério, no entanto, não fez a prova necessária.