Título: LULA: FRACASSO DE DOHA PODE GERAR TERROR
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Fonte: O Globo, 20/09/2006, O Mundo, p. 36

Presidente critica gastos com guerras e pede reforma do Conselho de Segurança

NOVA YORK. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu ontem que o fracasso da rodada comercial de Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) pode criar um terreno fértil para o terrorismo, o narcotráfico e o crime organizado, ao discursar pela terceira vez na abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Nos seus 15 minutos diante de 90 chefes de Estado e de governo e dezenas de ministros das Relações Exteriores, Lula defendeu a idéia de que o desenvolvimento é o caminho da paz e criticou os bilhões de dólares gastos em guerras como uma forma ineficiente de garantir a segurança mundial.

- Eliminar as barreiras que travam o desenvolvimento dos países pobres é um dever ético dos países ricos. Enquanto os países ricos gastam US$1 bilhão (R$2,15 bilhões) por dia em subsídios, 900 milhões de pessoas vivem com menos de US$1 (por dia) - disparou o presidente.

Programas sociais como forma de conter violência

O presidente abordou os temas habituais em suas aparições na cena internacional: criticou as políticas unilaterais dos países ricos que levam ao enfraquecimento da ONU e da OMC, e defendeu o exemplo brasileiro de combate à fome e à pobreza como uma forma de criar um mundo com menos violência. Voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU como uma maneira de tornar o fórum mais democrático, e criticou diretamente os Estados Unidos, que se opuseram à ampliação do número de membros permanentes.

- Nós andamos pelo mundo ensinando a democracia aos outros - ressaltou. - Chegou a hora de aplicá-la a nós mesmos e demonstrar que existe representação efetiva nos foros políticos das Nações Unidas.

Na sua defesa de um papel mais importante para o Brasil no cenário político internacional, o presidente propôs uma ampla reunião de cúpula sobre o Oriente Médio, sob o comando da ONU, já que até agora os esforços de paz para a região foram tratados apenas pelos países ricos.

Tradição faz brasileiro ser o primeiro a discursar

Pelo protocolo da ONU, o presidente brasileiro tem o privilégio de ser o primeiro a discursar na abertura dos debates da Assembléia Geral a cada ano, falando antes do presidente dos EUA, sempre a estrela maior de um dia cheio de estrelas da política mundial.

Teve direito a plenário lotado e galerias cheias, mas muitos dos presentes não se preocuparam em usar fones de ouvido com a tradução das palavras de Lula para línguas mais faladas do que o português.