Título: NA ONU, BUSH FAZ APELO DIRETO A MUÇULMANOS
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Fonte: O Globo, 20/09/2006, O Mundo, p. 36

Presidente defende política externa dos EUA para países islâmicos. Ahmadinejad condena violência americana e israelense

NOVA YORK. Numa defesa veemente de sua política externa, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, usou seu discurso na 61ª Assembléia Geral da ONU, na sede da entidade, em Nova York, para falar que continuará a apoiar as "forças da democracia e a moderação" no Oriente Médio. Em vez de usar os holofotes da ONU para, diante dos representantes dos 192 países-membros da entidade, desafiar governantes de países como Irã e Síria, Bush preferiu dirigir palavras diretamente para as populações destes Estados.

Discursando horas depois de Bush, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, criticou a estrutura do Conselho de Segurança da ONU e, sem citar o nome do país, atacou as ações violentas de países, em referências a Estados Unidos e Israel.

- Alguns contam com armas e confiam em ameaças, enquanto outros vivem em perigo. Alguns ocupam o território sagrado de outros, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância - disse Ahmadinejad, que também afirmou que o programa nuclear iraniano é "transparente e pacífico".

Do lado de fora da sede da ONU, centenas de pessoas faziam protestos. O maior deles, com duas mil pessoas, foi contra a guerra do Iraque. Duzentas pessoas se manifestaram contra a presença de Ahmadinejad, pelo governo autoritário dos aiatolás no Irã e suas declarações de que o Holocausto é um mito. Houve também protestos contra o governo de Mianmar e até de um grupo que dizia que o 11 de Setembro foi orquestrado pelo governo americano.

Lembrando que cinco anos antes tinha discursado no mesmo local pedindo à comunidade internacional para "defender a civilização", após dos ataques do 11 de Setembro, Bush defendeu mudanças democráticas do Oriente Médio. Bush não mencionou que quatro anos atrás - um ano depois do discurso citado por ele - usara a tribuna da Assembléia Geral para afirmar que o Iraque tinha armas de destruição em massa que jamais foram encontradas:

- Alguns disseram que as mudanças democráticas que estamos vendo no Oriente Médio estão desestabilizando a região. A argumentação se baseia numa premissa falsa: a de que o Oriente Médio era estável antes.

Um possível encontro entre Bush e Ahmadinejad - que a delegação americana fez tudo para impedir - não ocorreu. O iraniano não estava no plenário quando Bush discursou e não foi ao almoço organizado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, alegando que a religião muçulmana não o permitia partilhar de uma refeição em que seria servida bebida alcoólica.

Na parte mais esperada de seu discurso, em vez de polemizar com o presidente do Irã, Bush optou por se dirigir diretamente ao povo do país.

- Vocês merecem a oportunidade de determinar seu próprio futuro - disse o americano. - O maior obstáculo para este futuro é que seus governantes escolheram negar a liberdade a vocês e usar os recursos de sua nação para financiar o terrorismo, alimentar o extremismo e buscar armas nucleares.

Bush disse não ter qualquer objeção a um programa nuclear "realmente pacífico".

Ele também se dirigiu ao povo sírio, dizendo que seus governantes permitiram que o país se tornasse uma "encruzilhada do terrorismo" e "uma ferramenta do Irã".

Bush afirma que radicais fazem propaganda contra EUA

O presidente americano, cujo discurso foi considerado moderado por analistas, pediu à população do Oriente Médio que não acredite no que chamou de propaganda de radicais.

- Hoje gostaria de falar diretamente ao povo do Oriente Médio. Meu país deseja a paz. Extremistas em seu meio espalham propaganda afirmando que o Ocidente está engajado numa guerra contra o Islã - disse o presidente americano. - Esta propaganda é falsa e seu propósito é confundi-los e justificar atos de terrorismo.

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