Título: DIRETOR DO BB ENVOLVIDO NA COMPRA DO DOSSIÊ PEDE AFASTAMENTO DO CARGO
Autor: Henrique Gomes Batista, Regina Alvarez e Alan Grip
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O País, p. 4

Banco abriu auditoria para apurar envolvimento de Expedito Afonso Veloso

Anselmo Carvalho Pinto (**)

BRASÍLIA, CUIABÁ E SÃO PAULO. Após ter seu nome envolvido no escândalo da compra de dossiê para incriminar tucanos na máfia dos sanguessugas, o diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil, Expedito Afonso Veloso, pediu afastamento remunerado do cargo. O banco aceitou o pedido e abriu uma auditoria interna para apurar seu envolvimento no episódio. Também será investigado o fato de Expedito utilizar uma licença também remunerada para atuar informalmente na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Expedito afirmou, na carta em que se afasta, que estava de férias desde agosto e que pede o afastamento para isentar o BB de qualquer envolvimento no episódio. ¿Nesse período, atendi, por minha livre e espontânea vontade, a questões estritamente particulares, não tendo levado ao conhecimento de meus superiores no banco a natureza dessas atividades¿, diz ele.

Auditoria pode demitir Expedito

A passagem de Expedito por Cuiabá foi revelada pelo empresário petista Valdebran Padilha da Silva, preso com R$1 milhão que seria entregue a Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas. Segundo Valdebran, Expedito se encontrou com Vedoin para negociar a venda do dossiê.

A direção do BB, que se reuniu durante todo o dia de ontem para decidir pelo afastamento do diretor, informou oficialmente que o pedido de afastamento partiu do próprio Expedito. O banco também decidiu criar uma comissão interna de auditoria, sem prazo para concluir suas investigações, que podem, em última instância, determinar o desligamento definitivo de Expedito.

A carta com o pedido de desligamento de suas funções no banco foi entregue pessoalmente pelo diretor no início da tarde. Entretanto, segundo fontes da instituição, o afastamento de Expedito era inevitável e o pedido só formalizou uma decisão já tomada pelo Conselho de Administração.

A descoberta de que o diretor teria atuado no episódio da compra do dossiê causou grande constrangimento dentro da instituição. Fontes ligadas à diretoria consideram o comportamento do diretor condenável do ponto de vista ético.

A questão legal será analisada nos próximos dias, já que Expedito pedira férias e uma licença remunerada para atuar na campanha. Dependendo das conclusões da auditoria, o diretor pode ser afastado definitivamente do cargo e até demitido do banco. Ele é funcionário de carreira. Por enquanto, Expedito continua recebendo salário de diretor, mas não exercerá qualquer função até as conclusões da auditoria.

Expedito, mineiro de Ponte Nova, cidade da Zona da Mata, é formado em economia pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e pós-graduado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro.

O funcionário, de 42 anos, ingressou no Banco do Brasil por concurso em 1987 e se tornou diretor da instituição em meados de 2005, já na gestão do presidente Lula. Ele era o responsável pelo setor de avaliação de riscos na aprovação de investimentos, financiamentos e empréstimos realizados pelo banco estatal.

No Banco do Brasil, ele também atuou dentro do programa de implantação do Basiléia II, acordo internacional para aumentar a segurança institucional e a solidez financeira de bancos de todo o planeta.

Depoimento à PF nos próximos dias

Petista há dois anos, Expedito também é professor universitário, ensina estatística na FGV e leciona finanças na Universidade Católica de Brasília, no Distrito Federal. Ele integra uma corrente minoritária do PT de Brasília, a Comunidade Petista. Mesmo próximo do presidente do PT, Ricardo Berzoini, nas eleições para a presidência nacional do PT, apoiou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que disputou com Berzoini porque seu grupo de Brasília está ligado à esquerda petista. Maria do Rosário, no entanto, disse ontem que sequer o conhece.

Antes de assumir a diretoria do Banco do Brasil, ainda no governo Lula, Expedito fazia parte do Conselho Fiscal da Cooperforte, entidade formada em 1984 com o objetivo de desenvolvimento de programas de poupança, assistência financeira e prestação de serviços aos associados.

O ex-diretor do Banco do Brasil foi afastado do conselho fiscal da cooperativa após assumir o cargo na direção do banco, em meados do ano passado. Em 2005, a cooperativa apresentava ativos de R$229,5 milhões e realizou empréstimos aos seus associados que somaram R$149 milhões.

Expedito reapareceu ontem depois de vários dias. Apesar de ter participado por alguns momentos da reunião do Banco do Brasil que acabou decidindo pelo seu afastamento, na sede da entidade, em Brasília, em sua residência, localizada em uma cidade-satélite do Distrito Federal, ninguém informou se ele estava na cidade e quando foi a última vez que ele foi visto em casa. No dia anterior, nem mesmo a diretoria do BB conseguiu localizá-lo. Nos próximos dias ele deverá ser ouvido pela Polícia Federal.

(*) Enviado especial

(**) Especial para O GLOBO

COLABOROU Tatiana Farah