Título: BANCO CENTRAL DOS EUA PODE IDENTIFICAR DÓLARES
Autor: Alan Gripp e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O País, p. 9

Basta a Polícia Federal formalizar pedido

O Banco Central dos Estados Unidos, mais conhecido como Fed (de Federal Reserve), informou ontem que tem condições de identificar de imediato a origem dos US$248.800 encontrados sexta-feira passada em poder do empresário Valdebran Padilha e do advogado Gedimar Passos. Basta, para isso, que a Polícia Federal formalize o pedido.

O fato de se tratarem de vários maços de notas seriadas de US$100 facilita muito o trabalho das autoridades americanas:

- Assim que nos informarem os números de série nós temos como determinar de que banco o dinheiro foi sacado e, inclusive, saber de qual agência ele saiu - disse ao GLOBO uma porta-voz do Fed.

Os maços apreendidos no Brasil ainda estavam atados por cintas de papel com o selo da casa da moeda dos EUA. O Fed os entrega dessa forma às agências dos bancos privados em todo o país, depois de registrar os números de série e o destino das notas.

Uma vez identificada a origem, caberia então à própria PF descobrir como o dinheiro foi transportado para o Brasil. Duas são as hipóteses mais prováveis, segundo um agente da Força Tarefa de Crimes Financeiros do FBI, a polícia federal americana. E ambas seriam ilegais, se - como se suspeita - não tiverem sido feitos registros de saída dos EUA e/ou de entrada no Brasil:

- Seriam remessas através de "pombos-correios", ou seja, via vôos comerciais em bagagem de mão, correndo o risco de confisco na alfândega, no desembarque. Ou ainda em jatos privados, cuja carga não tenha sido averiguada na chegada ao Brasil. O dinheiro pode ter sido despachado em aviões utilizados habitualmente por narcotraficantes. E isso significa que ele também pode ter sido levado de avião a um país vizinho, digamos, o Paraguai, e dali por terra até o Brasil - disse o policial.

A rapidez da ajuda do Fed a um pedido da PF depende da rapidez com que o governo brasileiro o encaminhe. Um trâmite desse tipo geralmente é feito através do Itamaraty, que enviaria a solicitação ao Departamento de Estado que, por sua vez, a faria chegar ao Fed. Esse processo burocrático pode durar várias semanas.

No entanto, como as relações entre os governos do Brasil e dos EUA têm sido muito fluidas, as formalidades poderiam ser, em princípio, deixadas de lado:

- Em se tratando de uma informação essencial para o desenvolvimento de uma investigação, poderíamos antecipá-la informalmente e, mais tarde, enviá-la através dos procedimentos formais - disse o funcionário americano.

As autoridades dos EUA estariam dispostas, inclusive, a ajudar na investigação caso em território americano. Isso aconteceria se os policiais brasileiros obtiverem indícios de que os dólares resultem de lavagem de dinheiro obtido através de operações comerciais ou mesmo de corrupção - ou seja, de propinas ou mesmo caixa dois.

Se for necessária uma colaboração para investigar os caminhos trilhados pelo dinheiro utilizado pelos interessados em adquirir o suposto dossiê, outras duas agências federais americanas poderiam entrar na empreitada. Uma delas é a Rede de Repressão aos Crimes Financeiros (a FinCEN), do Departamento do Tesouro. A outra é a Divisão de Crimes Financeiros, o Serviço Secreto.

De acordo com a Força Tarefa de Crimes Financeiros, do FBI, nada menos do que US$1 trilhão é movimentado ilegalmente em todo o mundo, a cada ano.