Título: Parte do dinheiro saiu de contas bancárias no Rio
Autor: Alan Gripp e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O País, p. 9

PF suspeita que foram feitos depósitos em nome de laranjas com verba de caixa dois de candidatos a deputado

CUIABÁ e BRASÍLIA. Contas bancárias abertas no Rio de Janeiro são a origem de parte do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin. Depois de examinar os números de série das cédulas encontradas sexta-feira com petistas em São Paulo, a Polícia Federal descobriu que elas foram sacadas em agências dos bancos Bradesco, BankBoston e Safra no Grande Rio: uma na Lapa, outra em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, e a terceira em Duque de Caxias.

A Polícia Federal não informou qual o montante do dinheiro sacado dessas agências. Suspeita, no entanto, que as contas bancárias estejam abertas em nomes de laranjas e façam parte do caixa dois de candidatos fluminenses a deputado estadual e federal. A PF tem informações de que o dinheiro foi reunido através de colaborações do caixa de campanha de candidatos do partido.

- Sabemos que a operação envolveu muitas pessoas - comentou um dos investigadores do caso.

Dólares de SP são rastreados

A Polícia Federal também faz o rastreamento dos dólares apreendidos em São Paulo. Na sexta-feira, agentes federais apreenderam US$248,8 mil e R$1,16 milhão em um hotel de São Paulo. O dinheiro estava em poder do advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos e do empresário petista Valdebran Padilha da Silva. Eles contaram em depoimento que R$1 milhão já havia sido entregue a Valdebran como pagamento ao chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin, pela entrevista dada por ele à revista "Isto É". Na entrevista, Vedoin diz que obtinha a liberação dos recursos para a compra de ambulâncias mais facilmente durante a gestão de Serra no Ministério da Saúde.

O restante do dinheiro, segundo ele, seria entregue no momento em que Paulo Roberto Trevisan, tio de Luiz Antônio, chegasse a São Paulo, vindo de Cuiabá, com o dossiê Serra: seis fotos, uma fita de vídeo e um DVD com imagens de Serra e Alckmin participando de uma solenidade de entregue de ambulâncias vendidas pela máfia, realizada em 2001.

A Polícia Federal também está tentando localizar um suposto doleiro que teria repassado parte do dinheiro, aproximadamente R$1,7 milhão, apreendido em poder do empresário Valdebran Padilha e do advogado Gedimar Passos, no hotel Ibis, em São Paulo. O nome do homem, apontado como doleiro, está entre os papéis recolhidos pela polícia depois da prisão de Padilha e Passos, segundo informou um policial que está acompanhando de perto as investigações.

O nome do doleiro foi citado por um dos dois presos numa conversa com policiais na sexta-feira, logo depois deles terem sido levados para sede da Superintendência da PF em São Paulo. A polícia quer saber se o doleiro apenas trocou parte do dinheiro apreendido ou se participou das operações de saques dos recursos em agências dos BankBoston, Bradesco e Safra. O doleiro seria também um importante elo entre Valdebran Padilha e e Gedimar Passos e os verdadeiros donos dos recursos.

A polícia também encontrou numa das fitas que envolviam os pacotes de dinheiro o nome Sandra. Ela seria a funcionária de uma da agência do BankBoston que entregou parte do dinheiro que, mais tarde, seria apreendido.

PF terá que investigar mais

O delegado da PF Diógenes Curado, que está a frente das investigações sobre o caso, disse que, para comprovar o crime de lavagem de dinheiro a, PF terá que identificar um crime antecedente.

- Para saber se há lavagem de dinheiro temos que ver a origem do dinheiro, ver se veio de forma ilícita de alguma organização criminosa ou de crimes contra a administração pública - disse o delegado.

Ele reconheceu ainda que a proximidade com as eleições acabam atraindo as atenções para a investigação da PF.

- Sei que tenho uma pressão enorme porque isso pode ter influência na questão eleitoral, mas a PF não está analisando o caso desta forma.

Para auxiliar no rastreamento dos dólares apreendidos com os petistas acusados de negociar a compra do dossiê da família Vedoin, o delegado Diógenes Curado já anunciou que pedirá ajuda de instituições internacionais de cooperação financeira para identificar a origem do dinheiro. Parte dos dólares apreendidos pela PF com Valdebran Padilha e Gedimar Passos é de notas seriadas.

Digónes Curado pretende recorrer ao FED, o Banco Central dos Estados Unidos, para saber se é possível identificar em que banco e até mesmo agência estavam os dólares. Nos maços de notas de US$100 tinham até o selo do FED.

A PF também já pediu a 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso a quebra dos sigilos dos telefones usados por Passos e Padilha, no hotel Ibis, onde os dois foram presos sexta-feira passada.

(*) Enviado especial a Cuiabá

Equipe de TV de Alckmin acompanha investigações

Programa eleitoral exibirá cenas

CUIABÁ. Uma equipe de TV da campanha do candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, vem acompanhando cada passo, em Cuiabá, das investigações da Polícia Federal sobre a origem do dinheiro levantado para negociar a compra do dossiê contra Alckmin e contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. A equipe, formada por um repórter, um cinegrafista e um iluminador, foi deslocada às pressas de Salvador, onde fica baseada para registrar os compromissos de campanha do candidato no Nordeste, para Cuiabá, onde os principais suspeitos de participarem da negociata estavam presos.

Na terça-feira, a equipe chegou a tempo de registrar a chegada à sede da Polícia Federal dos dois suspeitos presos em São Paulo com R$1,7 milhão, que seriam usados para fechar o negócio: o advogado Gedimar Pereira Passos e o empresário petista Valdebran Padilha da Silva. Os dois foram filmados deixando o prédio da PF. As imagens serão exibidas hoje, durante o programa de Alckmin no horário eleitoral gratuito. Terça-feira passada, o programa já exibira imagens de Freud Godoy, suspeito de escalar Gedimar para realizar o negócio a mando da executiva nacional do PT, em São Paulo, onde prestou depoimento depois de ter seu nome envolvido no caso.

Ontem, os repórteres da campanha não se limitaram a registrar os passos dos investigadores do caso: fizeram diversas perguntas na entrevista e seguiram os passos da imprensa nacional pelas sedes da PF, da Justiça Federal e da Procuradoria da República do Mato Groso.