Título: Alckmin: 'Enfrentamos organização criminosa'
Autor: Maia Menezes e Rodrigo March
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O País, p. 18

Ataques ao PT e ao governo pelo dossiê dominam cerimônia de lançamento de programa de governo do tucano

A cerimônia de lançamento do programa de governo do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, virou ato do PSDB contra o novo escândalo que atingiu o governo Lula. O próprio Alckmin, ao falar em linhas gerais sobre as 216 páginas do programa, deixou em segundo plano o lançamento e afirmou que o fato mais importante do momento é o escândalo do dossiê contra tucanos.

- Quero dizer que o assunto é outro, não é programa de governo. O Brasil vive um momento muito grave, muito mais grave do que a questão eleitoral. Não estamos enfrentando uma candidatura, mas sofisticada organização criminosa, incrustada no Estado brasileiro - disse Alckmin, para uma platéia que reuniu a cúpula do tucanato, entre eles José Serra e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Alckmin, seguindo o tom inaugurado no palco pelo prefeito Cesar Maia, mestre de cerimônia do evento, foi irônico ao comentar a participação de Jorge Lorenzetti, funcionário da campanha de Lula, no caso:

- Só no governo Lula que um churrasqueiro vira diretor de banco estatal. O país está envergonhado, mas eles não têm vergonha. Não se pode ter uma ética quando se é oposição, sendo intransigente, e outra quando se é governo, sendo cínico - disse Alckmin, no discurso em que pediu um "mutirão cívico" para chegar ao segundo turno:

- Passando para o segundo turno, aí não tem fujão, porque terá o contraditório.

Para prender ladrão tem que esperar eleição, diz Alckmin

Em entrevista, em seguida, Alckmin pediu agilidade nas investigações. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, já anunciou que o resultado da investigação não acontecerá antes das eleições.

- Tudo agora no Brasil é para depois da eleição. Para pôr ladrão na cadeia tem que esperar passar a eleição - afirmou.

O ex-prefeito José Serra afirmou ainda que é tradição da Polícia Federal deixar fotografar dinheiro apreendido em suas operações - diferentemente do que aconteceu com o R$1,7 milhão apreendido com os petistas presos na compra do dossiê.

- Dessa vez se quebrou a tradição - afirmou Serra.

O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, afirmou, para ele, não há mais qualquer distinção entre o Lula e o PT:

- De uma vez por todas, se acaba com essa idéia de que o governo era uma coisa e o PT era outra. Com a idéia de que o Lula não sabia. Lula, PT e o governo viraram uma coisa só. É família e dinheiro público. Isso está apodrecendo a república por dentro - afirmou Tasso, que defende o recrudescimento das acusações contra Lula no horário eleitoral gratuito:

- O programa eleitoral tem que ser extremamente claro, colocando isso com todas as letras. Espero que o Brasil acorde e não faça a opção pelo apodrecimento total das suas instituições. É preciso saber de onde vem o suborno e o dinheiro.

A preocupação de tucanos e pefelistas agora é com a maneira de capitalizar votos com o novo escândalo. Uma reunião entre Tasso, Alckmin, o coordenador da campanha tucana à Presidência, senador Sérgio Guerra, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, e José Serra decidiu suspender um ato público, marcado para segunda-feira, em São Paulo, cujo tema principal seria a indignação do tucanato com o caso.

- É uma novidade atrás da outra. Preferimos cancelar, para esperar os acontecimentos - disse Tasso.

Bornhausen, durante o evento na Marina da Glória, afirmou que o presidente Lula terá que provar que não sabia da compra do dossiê:

- Os fatos estão demonstrando que a armação foi toda do PT e que a ação foi de integrantes do PT. Dificilmente um candidato a um cargo tão importante como o de presidente da República não sabe o que seu partido está fazendo - afirmou Bornhausen, que foi irônico ao comentar o envolvimento do petista Oswaldo Bargas no caso:

- O mais incrível é que essa nova figura que apareceu, o Bargas, é responsável pelo capítulo de Emprego e Renda do programa de governo do presidente Lula. O que é lamentável, porque ele está fazendo um capítulo a mais no programa: o crime eleitoral organizado.

Cesar: Lula pisa em mar de lama e pensa que é chocolate

O prefeito Cesar Maia (PFL), que organizou o encontro junto com Sérgio Guerra, afirmou que o presidente tem orgulho de "encobrir delinqüentes".

- O mar de lama escorre

debaixo da porta do presidente Lula, ele pisa e pensa que é chocolate - atacou o prefeito, dizendo que o programa Bolsa Família é "compra de votos sofisticada".

Tucano é vaiado por estudantes

Alckmin atravessa a baía e faz campanha em Niterói e São Gonçalo

O ambiente de animação dos cabos eleitorais contratados para acompanhar o candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB), ontem em Niterói e São Gonçalo, parece ter contagiado o tucano, que disse acreditar numa "virada histórica" com base no "termômetro das ruas". O clima só foi quebrado por um instante: ao deixar a barca em Niterói, depois de atravessar a Baía de Guanabara acompanhado de candidatos do PSDB e PFL, Alckmin foi vaiado por estudantes que esperavam a próxima embarcação.

O candidato, durante caminhada pelo Centro de Niterói e Rua da Feira, em Alcântara, São Gonçalo, voltou a falar sobre o escândalo da compra do dossiê, desta vez citando o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, como a bola da vez:

- Eles (o PT e o governo Lula) sempre escolhem alguém para responder pelos crimes cometidos. Parece que a bola da vez agora é o Berzoini. Mas essas coisas não são feitas por acaso, por uma pessoa só.

Para ele, a revelação do envolvimento de pessoas ligadas diretamente ao presidente Lula no caso é apenas a "ponta do iceberg". E chamou a operação de um esquema de atividades criminosas:

- Você tem a direção do PT, assessores da campanha, assessor direto do presidente da República, o churrasqueiro, diretor do Banco do Brasil, diretor do Banco de Santa Catarina, que é federal. Tem de tudo. Isso é um esquema de atividade criminosa completa - afirmou o tucano, que disse acreditar numa reação do eleitorado nesta reta final após o escândalo.

PROPOSTAS PARA ATÉ 2015

Fazer a reforma política no país, com fidelidade partidária e voto distrital na eleição parlamentar.

Fazer o país crescer de 5% a 6% ao ano sem comprometer a estabilidade.

Implantar até 2008 o Ensino Fundamental de 9 anos para crianças a partir dos 6 anos de idade.

Universalizar a jornada escolar de 4 horas até 2008 e a de 5 horas até 2010.

Assegurar que até 2017 95% dos alunos concluam o Ensino Fundamental.

Ampliar e melhorar o programa Bolsa-Família.

Apoiar a realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Criar um plano de investimentos emergenciais para o Pan 2007.

Empregar milhões de pessoas realizando obras de infra-estrutura.

Fazer a reforma da Previdência.

Fazer a reforma tributária para micro, pequenas e médias empresas.

Levar água tratada para 100% da população urbana até 2015.

Estender a rede de coleta de esgoto para 75% da população urbana até 2015.

Tratar 50% do esgoto sanitário urbano até 2015.

Recuperar 22 mil quilômetros de rodovias federais.

Reduzir em 5% até 2010 os custos do transporte de cargas.

Reduzir em 15% até 2010 as tarifas de transporte de pessoas.

Reduzir em até 20% o número de vítimas de acidentes de trânsito até 2014.

Aumentar a produção de petróleo de 1,88 milhões de barris/dia para 2,37 milhões de barris/dia em 2011.

Aumentar a produção de gás natural de 15,8 milhões de metros cúbicos/dia para 70 milhões em 2011.

Acrescentar 16 mil mW de energia elétrica até 2010.

Construir o gasoduto Urucu-Coari-Manaus até 2010.

Construir o gasoduto Urucu-Porto Velho até 2012.

Implantar a nova Sudam e Sudene.

Criar o Ministério da Segurança Pública.

Reduzir o número de ministérios.

Criar um setor especializado na AGU para recuperar dinheiro público desviado.