Título: TAILÂNDIA: MILITARES MARCAM ELEIÇÃO PARA 2007
Autor:
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O Mundo, p. 36

General que liderou golpe recebe apoio do rei e promete nomear premier interino dentro de duas semanas

BANGCOC. No dia seguinte ao golpe militar que derrubou, sem que um tiro fosse disparado, o governo de Thakin Shinawatra, na Tailândia, as ruas de Bangcoc permaneceram calmas, e a população recebeu a promessa de que poderá escolher um novo líder em eleições gerais - marcadas para outubro de 2007. O general Sonthi Boonyaratglin, chefe do Exército que liderou o golpe e que desde terça-feira ocupa o cargo de primeiro-ministro interino, afirmou que, dentro de duas semanas, um novo líder provisório será escolhido. Ele governará seguindo uma Constituição também temporária, a ser elaborada nas próximas semanas, abrindo, assim, caminho para uma reforma mais permanente. O processo conta com o importante apoio do rei Bhumibol Adulyadej, com quem o líder do golpe se encontrou depois de tomar o poder.

- Esperamos que uma nova e definitiva Constituição esteja pronta daqui a um ano, na época das eleições gerais. Até lá, peço que a população continue calma, e que os funcionários do Estado sigam nossas instruções - disse o general numa entrevista coletiva, ontem.

Premier deposto desembarca em Londres

Indagado se a junta militar tomará alguma providência contra o bilionário Shinawatra - acusado de, entre outras coisas, abuso de poder e corrupção - Boonyaratglin foi evasivo, limitando-se a declarar que "aqueles que cometeram erros devem ser julgados de acordo com a lei". Mas a TV tailandesa, horas depois da entrevista do premier interino, afirmou que o Conselho de Reforma Administrativa (formado pelos militares para coordenar a transição) demitiu auditores do Estado e deu poderes extras ao auditor Jaruvan Maintaka, que é general do Exército. Ele conduziria as investigações de corrupção contra o governo, o que pode levar ao confisco dos bens de Shinawatra.

O premier deposto, que estava em Nova York participando da Assembléia Geral da ONU quando ocorreu o golpe, chegou ontem a Londres, onde tem um apartamento. Ele novamente não falou sobre a situação política em seu país, nem marcou encontros oficiais, como informou a ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, Margaret Beckett.

- Não cabe a nós dizer se ele deve voltar ou não ao poder. Só pedimos que a Tailândia volte a ser governada democraticamente - disse a ministra.

Os EUA foram mais críticos em relação ao golpe.

- Estamos desapontados - disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, que exortou os militares "a restaurar a democracia o mais rapidamente possível".

A União Européia, a Austrália e a Nova Zelândia também condenaram o golpe militar, o primeiro a ocorrer na Tailândia em 15 anos, mas o 18º desde que o país tornou-se uma monarquia constitucional, em 1932.

O clima nas ruas de Bangcoc permaneceu calmo. Num dia de feriado, decretado pelos militares, 500 pessoas foram às ruas demonstrar apoio ao golpe.

- Acho que realmente ele pode representar um passo adiante, se desatar o nó político no qual a Tailândia se encontrava sob o domínio de Shinawatra - disse Somjai Phagapasvivat, da Universidade Thammasat, em Bangcoc, confirmando o descontentamento de elite e intelectualidade tailandeses com o governo de Shinawatra.