Título: ACHADO FÓSSIL INFANTIL DE 3,3 MILHÕES DE ANOS
Autor:
Fonte: O Globo, 21/09/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 38

O mais antigo esqueleto de uma criança já encontrado revela a transição dos antigos ancestrais ao homem

LONDRES. Uma equipe internacional de cientistas descobriu na Etiópia o fóssil de uma criança, provavelmente uma menina, que viveu há 3,3 milhões de anos. Trata-se do mais antigo e completo esqueleto de um menor da linhagem humana já encontrado, segundo o estudo publicado na "Nature", e testemunha um momento único da evolução: em que os ancestrais do homem estavam deixando de viver em árvores.

Os paleontólogos que anunciaram a descoberta revelaram que a criança morreu por volta dos três anos de idade e pertencia à espécie dos Australopithecus afarensis - que acredita-se seja o mais antigo ancestral direto do homem. Trata-se da mesma espécie de Lucy, um dos mais famosos fósseis já encontrados, que viveu há 3,18 milhões de anos na mesma região da Etiópia. Embora o novo fóssil seja mais antigo, os cientistas o apelidaram de "bebê de Lucy" por suas semelhanças.

A análise do esqueleto revelou indícios de uma espécie em transição. O formato dos membros posteriores confirma a idéia de que os afarensis andavam eretos, como os humanos modernos. Mas os braços e os ombros mais parecidos com os de um gorila revelam que eles provavelmente ainda mantinham a habilidade ancestral de subir e se balançar em árvores.

- A antiguidade, a idade da morte e o fato de ser um esqueleto muito completo tornam esse achado uma descoberta sem precedentes na história da paleoantropologia - afirmou o etíope Zeresenay Alemseged, líder do grupo que encontrou o fóssil, pesquisador do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, de Leipzig, na Alemanha.

Os cientistas afirmaram que o fato de o fóssil estar muito bem conservado e praticamente completo indica que a criança deve ter sido soterrada por grande quantidade de areia e pedras logo após a sua morte, provavelmente durante uma inundação na região conhecida hoje como Dikika.

A descoberta foi feita em 2000 e, até agora, os cientistas ainda não concluíram totalmente o estudo dos ossos. Mas, dizem, a análise revela algumas informações importantes. O cérebro, por exemplo, é do mesmo tamanho do de um chimpanzé da mesma idade. Mas a comparação com o tamanho do cérebro de um afarensi adulto revela um crescimento cerebral mais lento, mais parecido com o dos humanos.

Outra descoberta importante foi a do osso hióide - um osso raramente preservado da laringe que dá apoio aos músculos da garganta e da língua, ou seja, uma estrutura fundamental para a fala. O osso do "bebê de Lucy" indica que ela emitiria sons mais parecidos com os de um macaco, mas os cientistas consideram uma peça importantíssima para estudos sobre as origens da fala.