Título: 'DOSSIÊGATE' E WATERGATE
Autor: Maria Lima/Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 22/09/2006, O País, p. 14

Estudiosos vêem semelhanças e diferenças

Cientistas políticos e sociólogos reconhecem pequenos pontos em comum entre a investigação que levou à renúncia do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, e o escândalo da atual campanha brasileira. Mas não se arriscam na tese do presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, que avaliou o escândalo brasileiro como pior do que o americano Watergate.

- São situações históricas diferentes Até o momento, o somatório de irregularidades não gerou um movimento de impeachment. E houve vários casos nesse mandato - diz Paulo Kramer, cientista político da Universidade de Brasília. - Watergate representou a quebra da confiança e da credibilidade dos políticos perante a opinião pública americana. Lá, o presidente mentir é crime. Aqui é perfeitamente cabível não falar para não se incriminar.

Professora da Universidade de São Paulo (USP), Maria Victoria Benevides enxerga pontos comuns e outros diferentes. Para ela, é como comparar com a história de Gregório Fortunato, que desembocou no suicídio de Getúlio Vargas. Nos três casos, as circunstâncias históricas são distintas.

- Das condições às pessoas envolvidas, é tudo diferente. Comparações históricas são sempre muito delicadas. A maioria dos eleitores de Lula é a menos influenciável por esse tipo de acontecimento. Entre eles, predomina a visão de que político bom é o que faz alguma coisa por eles - opina Maria Victoria, apostando que, numa outra diferença, a crise não sobrevive à eleição. - Mas fica a marca. O importante é aproveitar tempos tão sombrios para se investir o máximo possível na educação política, na cidadania, nos mecanismos de participação popular - sugere ela.

O professor Ricardo Ismael, da PUC carioca, lembra que não há sequer tempo hábil para qualquer comparação, dado que o escândalo petista acabou de começar, enquanto Watergate é um fato histórico fechado.

- Aqui, a investigação está em curso. É algo aparentemente grave, que tem certamente sua importância, em especial pelo dinheiro envolvido. Mas não dá para dizer nem se o desdobramento pode atingir o presidente. Precisamos esperar.