Título: Crise põe Marco Aurélio contra Marco Aurélio
Autor: Maria Lima/Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 22/09/2006, O País, p. 14

Presidente do TSE disse que 'dossiêgate' é pior que Watergate e coordenador da campanha de Lula se irritou

BRASÍLIA. O clima na primeira entrevista do novo coordenador da campanha da reeleição, Marco Aurélio Garcia, já não era dos melhores, mas foi seu xará, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio de Mello, quem o tirou do sério. Perguntado se concordava com a comparação feita por Mello com o caso Watergate, Garcia discordou e insinuou ter sido uma declaração partidária e indevida de um chefe de Poder:

- Não faço essa comparação por respeito ao Judiciário. É uma opinião de tom muito impressionista, no mínimo eu diria que é exagerada, para não dizer que pode ter alguma conotação partidária. Respeitamos a Justiça Eleitoral, o Poder Judiciário, e queremos simplesmente que haja isenção muito grande na investigação.

"Não estou censurando meu xará, não!", grita Garcia

Mas Garcia perdeu as estribeiras quando lhe perguntaram se considerava que o presidente do TSE estava sendo partidário. Chegou a dar um grito:

- Não estou dizendo nada! Estou dizendo que não me parece que caiba a qualquer poder da República, menos ainda ao Poder Judiciário, fazer avaliação de caráter qualitativo como essa. O Poder Judiciário tem à sua disposição leis para avaliar e julgar essa situação. Não estou censurando meu xará, não!

O presidente do TSE reafirmou ontem que os últimos escândalos na política brasileira são muito piores que o caso Watergate, que resultou na renúncia do então presidente americano Richard Nixon nos anos 60. Mas evitou polemizar com Marco Aurélio Garcia:

- Referi-me que é muito pior, a partir do contexto do somatório de notícias encerrando escândalos nos últimos anos. Sua excelência (Marco Aurélio Garcia) apontou vários enfoques e disse mesmo que não poderia acreditar que o que falei tivesse conotação partidária. O Judiciário não está engajado em qualquer política, a não ser na política institucional, de prevalência da ordem jurídica.

Ele negou que o episódio tivesse deixado qualquer clima de mal-entendido com Garcia. Afirmou que não vai procurá-lo para discutir o assunto. Mas deixaria as portas de seu gabinete abertas para recebê-lo:

- É natural que defenda o candidato dessa campanha eleitoral. Não vislumbrei qualquer aspecto que pudesse implicar uma injúria ou uma agressividade maior tendo em conta o TSE e a minha própria pessoa.

Ele ressaltou que as acusações de que o PT estaria negociando um dossiê contra o candidato ao governo paulista, José Serra, poderia interferir no resultado das eleições:

- Pode repercutir, mas ainda é cedo para falarmos sobre as conseqüências desse processo. São fatos que, de início, deixam a todos perplexos. Mas precisamos esclarecer esses fatos. Precisamos buscar a verdade, o que realmente aconteceu, e o grau de envolvimento de cada um dos citados.

Acho que é uma opinião de tom muito impressionista, no mínimo eu diria que é exagerada, para não dizer que pode ter alguma conotação partidária.

MARCO AURÉLIO GARCIA

O Judiciário não está engajado em qualquer política, a não ser na política institucional, de prevalência da ordem jurídica

MARCO AURÉLIO DE MELLO