Título: Bolsa Família domina debate sobre programas
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 22/09/2006, O País, p. 15

Adversários chamaram projeto de assistencialista e novo coordenador da campanha de Lula reagiu

Estrela da campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família foi o principal tema do encontro que reuniu ontem, no Rio, os coordenadores dos programas de governo dos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto. Apontado como um dos maiores trunfos da campanha petista à reeleição, o programa de transferência de renda, que atende 11,1 milhões de famílias, foi chamado de assistencialista por adversários. As críticas irritaram o novo coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, também presente ao seminário promovido no Rio pelo Fórum Nacional, dirigido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso.

O economista Cesar Benjamin, candidato do PSOL a vice-presidente e responsável pelo programa de governo de Heloísa Helena, acusou o governo de confundir política social com caridade. Ele disse que o Bolsa Família é um paliativo usado pelos petistas ara evitar mudanças na política macroeconômica.

- Nossa resposta à questão de renda na sociedade brasileira é basicamente o programa Bolsa Família, que evidentemente opera na superfície. Vamos fazer uma pequena distribuição e empurrar o problema para frente - criticou Benjamin, após dizer que o Brasil vive sob a tirania de programas de curto prazo subordinados a interesses políticos.

'O povo é infantilizado'

Abatido com a queda de Heloísa Helena nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSOL a vice-presidente disse estar angustiado com a ausência de projetos alternativos para o país.

- Está terminando uma campanha em que o povo é infantilizado e os candidatos discutem quem é capaz de faze mais caridade - criticou.

Irritado, o novo coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, fez uma defesa veemente da política social do governo. Com uma estrelinha do PT na lapela, ele acusou os críticos da Bolsa Família de ignorarem as necessidades dos brasileiros que vivem na miséria.

- A Bolsa Família é o mesmo, com nome distinto, que a Bolsa Escola. A diferença é apenas conceitual. Reduzi-la a um programa assistencialista é desprezar a realidade do país - disse Garcia que, na saída do encontro, acusou os adversários de achar que o eleitorado de Lula é ignorante e foi comprado pela Bolsa Família.

O candidato do PDT, Cristovam Buarque, que coordenou o próprio programa de governo, voltou a empunhar a bandeira da educação e disse que o país chegou ao momento de dar um salto radical, "ainda que não destrutivo como certos radicalismos".

- As revoluções acontecem quando não dá mais para enganar os direitos dos que estão embaixo e não dá mais para segurar os privilégios dos que estão em cima. Para enganar os direitos dos que estão embaixo, a Bolsa Família está ajudando. Mas não vai ajudar muito tempo, porque as pessoas vão querer algo mais. É questão de tempo. Os filhos das famílias do Bolsa Família vão querer mais - afirmou Cristovam.

Último a falar no seminário, o coordenador da campanha do tucano Geraldo Alckmin, João Carlos Meirelles, disse que o Bolsa Família é insuficiente para transformar a vida dos beneficiados.

- Se é preciso dar Bolsa Família, não é por caridade. É preciso dar a porta de saída. O que devolve a dignidade é trabalho - afirmou.

Reduzir o Bolsa Família a programa assistencialista é desprezar a realidade

MARCO AURÉLIO GARCIA, coordenador do programa de Lula

É preciso dar a porta de saída. Só o trabalho devolve a dignidade

JOÃO CARLOS MEIRELLES, coordenador do programa de Alckmin

Os candidatos discutem quem é capaz de fazer mais caridade

CESAR BENJAMIN, coordenador do programa de Heloísa

Para enganar os direitos dos que estão embaixo, o Bolsa Família está ajudando

CRISTOVAM BUARQUE, coordenador do próprio programa