Título: ESTATAL BOLIVIANA FALHA NA DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS E RECORRE À PETROBRAS
Autor: Ramona Ordoñez/Eliane Oliveira e Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 22/09/2006, Economia, p. 32

YPFB solicita 1,2 milhão de litros de gasolina extra para combater escassez

RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. Dois meses depois de ter tomado da Petrobras e assumido a distribuição de combustíveis na Bolívia, o governo de Evo Morales pediu ajuda à estatal brasileira para acabar com a falta de gasolina em algumas regiões. Segundo fontes, a estatal boliviana YPFB, que assumiu a distribuição em julho, teria cometido falhas, o que teria provocado a falta de gasolina em algumas regiões, principalmente em Santa Cruz de la Sierra - governada pela oposição a Morales. Para normalizar o fornecimento, a Superintendência de Hidrocarbonetos solicitou a entrega de um volume adicional ao previsto: mais 1,2 milhão de litros de gasolina.

A Petrobras Bolívia explicou que não houve qualquer redução nem na produção nem na entrega dos volumes requisitados pela YPFB de gasolina. O volume adicional solicitado corresponde ao consumo de dois dias em Santa Cruz de la Sierra.

Mantendo o tom conciliador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que espera chegar a um acordo em bons termos nas negociações e informou que já sugeriu a Morales que os dois países se tornem sócios em uma usina hidrelétrica no Rio Madeira, em Rondônia.

Em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da TV Globo, Lula revelou ainda que pretende dar peso político às negociações sobre a nacionalização das reservas de petróleo e gás. Lula disse que, após as eleições, ou irá a La Paz ou Morales irá a Brasília:

- Eu disse: Evo, você não pode ficar com uma espada na cabeça do Brasil porque você tem o gás. Nós também podemos colocar uma espada na tua cabeça porque nós compramos o gás, e, se você não vender para nós, vai ser muito difícil vender para alguém. É só olhar a geografia da Bolívia para perceber. O que o presidente Evo tem-me dito é que vamos chegar a um acordo, vamos negociar. Eu acredito nisso.

Lula confessou, porém, que gostaria que o Brasil não dependesse tanto do gás boliviano. Ele destacou também que já há vários projetos em discussão em outras áreas que vão beneficiar o país vizinho, como um pólo gás-químico na fronteira entre Brasil e Bolívia.

Questionado sobre o posicionamento dos ministros de Energia da Bolívia, Lula afirmou que há uma discrepância entre o discurso deles e o que está sendo negociado entre representantes dos dois países:

- A história que a gente vê na mesa é uma e a história que a gente vê na imprensa é outra. Ora, eu confio em que a Bolívia tem a exata noção da importância do Brasil para a Bolívia.

Em Nova York, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, assumiu discurso semelhante ao de Lula, ao rebater as declarações do novo ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, de que "a Petrobras não vai torcer o braço" dos bolivianos.

- Essa retórica não interessa ao Brasil. Ele deve estar precisando dessa retórica para impressionar o público interno - disse Dilma, que participou de um seminário promovido por Bill Clinton, no qual defendeu o biodiesel brasileiro.

Ela reafirmou que o Brasil quer dialogar com a Bolívia:

- O que você acha que poderíamos fazer de diferente? Invadir a Bolívia? O Brasil não tem veleidades imperialistas.

COLABOROU Helena Celestino, correspondente