Título: DESEMPREGO CEDE POUCO, MAS SALÁRIO AUMENTA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 22/09/2006, Economia, p. 33

Taxa passou de 10,7% em julho para 10,6% em agosto. Número de ocupados tem a maior alta em 15 meses

O mercado de trabalho do país reagiu em agosto, mas não o suficiente para baixar com força a taxa de desemprego, que passou de 10,7% em julho para 10,6% no mês passado, informou ontem o IBGE. A grande entrada de pessoas no mercado provocou a quase estabilidade da taxa que mede o percentual de desempregados na força de trabalho. Entre os ocupados, houve alta de 1,1%, a maior inserção de trabalhadores desde maio de 2005: foram mais 226 mil em agosto contra julho.

Em relação a 2005, constatou-se aumento significativo no universo de desempregados, fazendo a taxa subir de 9,4% para 10,6%. Mas o salário subiu: na comparação com julho, o aumento foi de 0,7% e, sobre agosto do ano passado, a alta atingiu 3,5%, fazendo o ganho médio real (sem os efeitos da inflação) chegar a R$1.036,20. O emprego com carteira assinada continua a crescer com força: avanço de 5,7% contra 2005 e de 0,8% frente a julho.

- Houve ingresso de quase um milhão de pessoas (913 mil) no mercado nos últimos 12 meses, a maior alta desde dezembro de 2003. Mais da metade desse contingente conseguiu se ocupar - disse o economista Marcelo de Ávila, consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Eleições ajudaram a aumentar ocupação

A mesma leitura dos números tem o gerente da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo. O rendimento maior e a expansão do emprego formal estão estimulando a entrada de pessoas no mercado, segundo o técnico:

- Há um cenário bastante favorável, o que tem atraído mais pessoas na procura por vagas - disse Azeredo.

O período eleitoral também ajudou. O grupo de atividade outro serviços, que reúne empregados em partidos políticos e agremiações, além de alojamento, alimentação e serviços pessoais, teve a maior alta no número de ocupados entre os ramos pesquisados: 2,5%.

Para Ávila, do Ipea, o aumento de confiança é claro nos números. E Azeredo, do IBGE, reuniu números que mostram que os desempregados que hoje incham a População Economicamente Ativa (PEA) diferem daqueles de 2003, quando o mesmo fenômeno aconteceu:

- Agora, a maioria é de mulheres, jovens, escolarizados e que não são chefes de família. É um perfil de quem quer aproveitar as oportunidades - afirmou Azeredo.

Segundo ele, em 2003 eram membros secundários das famílias que buscavam complementar a renda. Isso diante da perda salarial que beirava os dois dígitos.

No ano, a taxa média de desemprego está em 10,3%

As projeções para os próximos meses são positivas quanto ao nível de ocupação, mas Ávila acredita que a taxa de desemprego de um dígito somente será alcançada mais próximo do fim do ano. Pelo histórico da pesquisa, já no início do segundo semestre a taxa começa a cair, o que não está acontecendo este ano:

- Com a entrada maciça de pessoas em busca de emprego, fica difícil baixar a taxa significativamente. Mas ela deve ficar abaixo de 10% em 2006.

Olhando os números médios do ano nota-se o crescimento do desemprego: 10,1% de janeiro a agosto de 2005, contra 10,3% em 2006. Já o rendimento mostrou alta média de 4,2% na mesma comparação.

- Inflação em queda, mais emprego com carteira, que paga mais, e reajuste do salário mínimo explicam essa alta - explicou Azeredo.

Mas o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) lembra que o salário está no mesmo patamar de junho, já que em julho houve queda de 0,7%. A mesma alta registrada no mês seguinte.