Título: FIRJAN ALERTA PARA AMEAÇA DE NOVO RACIONAMENTO DE ENERGIA EM 2008
Autor: Ramona Ordoñez e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 22/09/2006, Economia, p. 33
Projeção mostra que nível de reservatórios do Sudeste deve cair a 40% este ano
RIO e BRASÍLIA. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou ontem um estudo no qual alerta sobre os riscos de o país sofrer um novo racionamento de energia, já a partir de 2008, e sugere que o governo adote medidas urgentes. O estudo foi apresentado pelo presidente do Conselho Empresarial de Energia da Firjan, Armando Guedes Coelho, que destacou que o objetivo não é ser alarmista, mas realista.
O professor do Instituto de Economia da UFRJ Adilson de Oliveira, que integra o Conselho Empresarial de Energia da Firjan, explicou que este ano os níveis dos reservatórios das usinas do Sudeste estão em 52%, devendo cair para 40% até o fim do ano. Segundo o professor, se o próximo ano também for seco, os níveis poderão cair mais, como ocorreu no racionamento de 2001.
Para evitar reduzir esses níveis, a Firjan propõe que o governo utilize mais as usinas térmicas a gás. Como o volume de gás natural disponível para as térmicas é limitado, a Firjan propõe que, desde já, seja negociada a redução do consumo de outros setores, como o industrial, e até mesmo de gás natural veicular (GNV).
- É necessário tomar medidas já para evitar problemas lá na frente, como foi em 2001 - disse Oliveira.
O estudo da Firjan considera que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país) só poderá crescer 3,2% ao ano para que seja possível manter o nível mínimo de risco de racionamento de 5%. Se a economia crescer a 4,75% ao ano, por exemplo, já antes de 2009 o risco vai superar os 5%.
Para especialista, é preciso diversificar matriz energética
Em um cenário de referência apresentado ontem em um seminário pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o crescimento do consumo de eletricidade será de 4,5% ao ano, no período de 2005-2030, para um aumento do PIB de 4,1% ao ano. A expansão da demanda será superior ao crescimento da atividade econômica em todas as hipóteses testadas pela EPE.
Este ano, o consumo de energia deverá crescer cerca de 4%, e a economia, 3%. Até o fim de 2006, o governo deve concluir o Plano Nacional de Energia/2030, projeção de longo prazo do comportamento do mercado, que ajudará no planejamento do setor, tendo como objetivo o aumento da oferta.
Para o especialista Altino Ventura, ex-presidente da Eletrobrás durante o racionamento de energia, o Brasil tem um grande desafio à frente. Isso porque em 2030 o crescimento do consumo deve ser da ordem de 4.500 megawatts (MW) médios a 5.000MW médios, o que representa mais da metade da capacidade de produção de Itaipu, ou 10% do consumo nacional atual.
- Se fosse usada só a energia nuclear, seriam necessárias seis usinas - exemplificou.
Ventura alertou para a necessidade de se diversificar a matriz energética do país, com outras fontes de energia, além da hidráulica. A diversificação é necessária tanto para dar conta da demanda em expansão quanto para contornar o aumento esperado de custo da energia.
Tolmasquim afirmou ver algumas vantagens para atender à expansão do consumo: mercado grande (atraente a investimentos), abundância de recursos naturais e grande potencial de energia renovável a baixo custo. Entre as desvantagens, estão concentração de renda, mercado pequeno de crédito e violência e insegurança social nos centros urbanos.