Título: PF suspeita que diretor acessou conta de Vedoin
Autor: Henrique Gomes, Regina Alvarez e Bernardo de la Pe
Fonte: O Globo, 23/09/2006, O País, p. 5

BB investiga se Expedito usou politicamente a estrutura do banco; Conselho de Ética da Presidência analisa o caso

BRASÍLIA. O Banco do Brasil vai investigar se Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão de Risco que atuava na campanha pela reeleição do presidente Lula, usou a estrutura da instituição em benefício da campanha e acessou informações protegidas por sigilo bancário para atingir adversários políticos. O Conselho de Ética Pública da Presidência da República também vai analisar o caso.

Ouvido ontem pela PF, Expedito foi afastado do cargo depois da revelação de seu envolvimento na negociação de dossiê com denúncias contra candidatos tucanos. A PF investiga a suspeita de que Expedito teria obtido informações da conta do empresário Luiz Antônio Vedoin que mostrariam supostas transferências para o empresário Abel Pereira. Pereira é o suposto intermediário entre o esquema dos sanguessugas e o ex-ministro Barjas Negri.

Chamou atenção dos investigadores o fato de deputados petistas perguntarem a Vedoin, em seu depoimento na CPI dos Sanguessugas, o que ele sabia sobre Abel, quando ainda não havia sido tornada pública a suposta ligação entre ele e Barjas.

O presidente do Conselho de Ética, Marcílio Marques Moreira, espera que a reunião, segunda-feira, seja conclusiva. O conselho é composto por cinco representantes da sociedade civil, que se reúnem mensalmente para analisar possíveis desvios de conduta de ocupantes de cargos da alta administração federal - ministros, secretários e diretores de estatais, bancos federais e empresas públicas.

Sistema do BB tem registro de quem faz consultas

O parecer deve ser levado em conta na auditoria interna que o BB instaurou após a revelação do envolvimento de Veloso. Segundo fontes do banco, devem ser apuradas informações divulgadas pela imprensa de que o diretor acessou os sistemas da instituição para vasculhar contas de pessoas ligadas aos tucanos e à máfia das ambulâncias. Como diretor de Gestão de Risco, ele tem acesso a contas, mas o sistema registra as consultas em detalhes, com número de matricula e horário. O diretor estava em férias, o que torna o uso do sistema irregular.

A conduta de Expedito também será avaliada pela Comissão de Ética do BB. Ele tirou licença remunerada no dia 14 de agosto para se integrar à campanha de Lula. Ele acumulou diversas folgas a que tinha direito.

De acordo com a assessoria de imprensa do BB, não é proibida a licença para participar de campanhas eleitorais, mantendo a remuneração. Isso não significa, contudo, que a prática será considerada normal pela Comissão de Sindicância que analisa o caso, principalmente após as denúncias de envolvimento de Expedito Veloso na compra do dossiê. Funcionário de carreira do BB, ele pode receber punição ou até ser demitido, dependendo dos resultados da investigação.