Título: DELEGADO: DOSSIÊ ENVOLVE PARTIDOS DE A A Z
Autor: Bernardo de la Peña/Alan Gripp/Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 23/09/2006, O País, p. 8

Policial responsável por prisões diz que documentos apreendidos são apenas 'um petisco'

SÃO PAULO. O delegado Edmison Bruno, responsável pelas prisões de Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha, disse que o dossiê dos Vedoin que supostamente seria vendido ao PT tem duas mil páginas e envolve não só o PSDB, mas outros partidos, inclusive o próprio PT. Segundo o delegado, o dossiê original ainda não foi apreendido pela Polícia Federal.

- O dossiê apreendido é um petisco. Tinha (no dossiê completo) partido de A a Z.

O material apreendido até agora trata das supostas ligações de José Serra e Barjas Negri, ex-ministros da Saúde do governo Fernando Henrique. O dossiê completo, no entanto, segundo os depoimentos de Gedimar e Valdebran, teria sido visto por "analistas do PT", na terça-feira anterior às prisões.

Segundo Bruno, os presos afirmaram que a venda seria feita por R$2 milhões. Foi apreendido R$1,7 milhão, entre reais e dólares. Parte do dinheiro foi encontrada no quarto de Gedemar, personagem que foi considerado uma surpresa pelo delegado.

- A determinação era encontrar no hotel o Valdebran com R$1 milhão. Mas o Valdebran disse, no final, que o resto do dinheiro estava com Gedimar, no quarto ao lado - conta Bruno.

Gedimar recebeu em seu quarto um homem identificado como André, que levou o dinheiro. A polícia procura André e não sabe se ele é de São Paulo ou do Rio. Desconfia que seja doleiro, mas não descarta a possibilidade de ser ligado ao PT.

Valdebran seria ligado para os Vedoin para negociar com o PT, enquanto Gedimar seria o representante dos interessados petistas. Em seu depoimento, Valdebran implica diretamente o ex-diretor do Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) e ex-dirigente da CUT, Jorge Lorenzetti. Ele disse que falou duas vezes com um homem chamado Jorge, que a polícia concluiu ser Lorenzetti.

- Chegamos a acreditar que eram nomes falsos, mas foram se confirmando. Disseram que o chefe era Jorge e que Freud (Freud Godoy) comandava a compra de São Paulo.

Bruno insinuou uma possível armação dos tucanos, porque uma equipe da campanha de José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, estaria aguardando na PF, antes dos jornalistas, a prisão de Valdebran e Gedimar. Ontem, a equipe de filmagem também estava presente. O delegado disse que, como saiu do caso, não vai apurar se houve informação privilegiada.

- Isto comprova uma partidarização da PF. O delegado deveria ter mostrado o que a polícia prendeu junto a corja de larápios comandada pelo presidente Lula. É um rebaixamento da instituição - disse o coordenador da campanha de Serra, o vereador José Anibal.