Título: CPI cobra do Coaf informações de rastreamento
Autor: Bernardo de la Peña/Alan Gripp/Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 23/09/2006, O País, p. 8
Presidente da comissão critica demora da PF para descobrir origem do dinheiro apreendido com petistas
BRASÍLIA. O sub-relator da CPI dos Sanguessugas, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), anunciou que vai enviar ofício ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) cobrando informações sobre o rastreamento da origem do dinheiro apreendido em poder dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos. Para o deputado, esse rastreamento é fácil de ser realizado. Sampaio criticou a demora na apuração da Polícia Federal na origem do dinheiro.
- É uma informação que já poderia ter sido obtida. Está na hora de a Polícia Federal agir veementemente. Isso tem que estar apurado até, no máximo, segunda-feira - disse Sampaio.
Ele afirmou que a PF tem nomes de dois funcionários que trabalhavam em duas agências bancárias no dia em que foi sacado R$1,1 milhão - a parte do dinheiro em reais. A PF tenta rastrear a origem com base nas cintas que envolviam parte das cédulas. Foram identificadas notas que passaram por Bradesco, Bank Boston e Banco Safra. Três maços de R$5 mil tinham cintas do Bradesco, que continham o número 3752.
O número, segundo fonte do setor bancário, é de uma central de distribuição terceirizada que trabalha para o Bradesco e dela o dinheiro pode ter sido distribuído para uma das agências do banco em São Paulo - e depois sacado de lá. A central ficaria na Barra Funda. Outras cintas tinham apenas a inscrição "119 - Cpo Grande" ou "Caxias 118" . Para a PF, isso mostra que os saques foram feitas em agências bancárias em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, e Duque de Caixas, na Baixada Fluminense.
Sampaio foi à PF acompanhado do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Os dois saíram com cópia do dossiê e documentos do inquérito. Gabeira guardou tudo no cofre da CPI dos Sanguessugas.
Gabeira: rastrear reais é mais fácil
O delegado responsável pelas investigações, Diógenes Curado Filho, disse que, se confirmada a informação de que dólares que seriam usados na compra do dossiê entraram ilegalmente no país, os envolvidos poderão ser processados por crime contra o sistema financeiro - configurado quando uma operação de compra e venda de dólar é realizada sem comunicação ao Banco Central. Para Gabeira, o mais relevante é investigar a origem dos reais, pois rastrear a entrada dos dólares pode demorar.
- Se você infere que é viável descobrir a origem do dinheiro, pode se afirmar que (o governo) pode avaliar o desgaste de divulgar ou não essas informações - afirmou Gabeira.
O Banco Central informou que não faz controle do número das cédulas de dólar que entram no país. Segundo o BC, a instituição registra as entradas legais de moeda estrangeira, mas a identificação é das partes envolvidas e do valor transportado. Instituições financeiras que trazem dólares para o Brasil também não precisam anotar os números da cédulas.
Caso seja comprovada a origem ilegal do dinheiro, os primeiros indiciados serão Gedimar e Valdebran, presos com o equivalente a R$1,7 milhão para a compra do dossiê. Também poderão responder por crime contra o sistema financeiro os dois homens que, segundo Gedimar, lhe entregaram as sacolas com o dinheiro. Eles não foram identificados pela PF. Em depoimento, Gedimar disse não conhecê-los. Afirmou que um se chama André, é branco, tem 1,75m, cabelo castanho-escuro e aparenta 45 anos. O outro, que lhe entregou R$1 milhão, seria branco, aparentando 45 anos e cabelos "negros carapinha".