Título: Vedoin nega envolvimento de Serra com máfia
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 23/09/2006, O País, p. 13

Investigadores dizem não ter dúvidas de que comando da campanha de Lula negociou dossiê com chefe dos sanguessugas

BRASÍLIA. O empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, disse anteontem à Polícia Federal que o ex-ministro da Saúde e candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, não teve envolvimento nas fraudes nas vendas de ambulâncias com recursos federais a prefeituras. Uma semana antes, em entrevista à revista "IstoÉ", Vedoin acusara Serra ao afirmar que, em sua gestão, era mais fácil obter a liberação de dinheiro, e que o então ministro sabia das operações.

Segundo a Polícia Federal, as acusações feitas na entrevista faziam parte de um pacote negociado com representantes do comitê de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual estava o dossiê com imagens de Serra participando da entrega de ambulâncias em solenidades oficiais, em 2001. Anteontem, depois de estourado o escândalo, Vedoin disse que a participação de Serra se resumiu à sua presença na solenidade e que "não há indícios de que tenha participado da máfia dos sanguessugas". Após o depoimento, os investigadores disseram não ter dúvidas de que o comando da campanha de Lula negociou o dossiê com Vedoin.

Vedoin também isentou de culpa o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. No dossiê que tentou vender ao PT, ele incluiu uma foto de Alckmin na mesma cerimônia. Ele confirmou que o ex-diretor do Banco do Brasil e integrante do comitê, Expedito Afonso Veloso, negociou semana passada a compra do material. Vedoin contou que Expedito acompanhou a entrevista que ele e seu pai, Darci Vedoin, deram à "IstoÉ".

DVD que teria as fotos de Serra estava vazio

Expedito, afastado do BB e da campanha de Lula, foi flagrado pelas escutas telefônicas da PF em conversas com Vedoin. Na quinta-feira retrasada, os dois se encontraram no aeroporto de Cuiabá, onde Vedoin entregou a Expedito o DVD que traria as imagens de Serra no ato público. O petista não checou o conteúdo do DVD e, ao chegar a São Paulo, descobriu que estava vazio.

Para a PF, Vedoin montou a armação por desconfiar que o dinheiro (R$2 milhões) não seria entregue ao petista Valdebran Padilha da Silva, seu amigo, que receberia o montante e entregaria a ele. No dia seguinte, sexta-feira (dia 15), ao saber que Valdebran estava com parte do dinheiro (R$1 milhão) no hotel onde estava hospedado, em São Paulo, Vedoin escalou seu tio, Paulo Roberto Trevisan, para levar o material prometido. Mas agentes federais surpreenderem Paulo Roberto no Aeroporto de Cuiabá. Quase ao mesmo tempo, em São Paulo, Valdebran e o advogado Gedimar Pereira Passos foram presos com o equivalente a R$1,7 milhão.