Título: Secretário do PT pede ajuste de contas interno
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 23/09/2006, O País, p. 15

'Há, no partido, um grupo de dirigentes que não aprendeu nada com a crise de 2005', afirma Valter Pomar

BRASÍLIA. O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda, jogou água misturada com querosene na fogueira que arde ao redor do PT e de alguns de seus militantes, sobretudo o presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP). Num artigo postado no site do PT ontem, Pomar defendeu um ajuste de contas interno. Mas para depois das eleições.

"É natural que muitos militantes queiram justiça imediata, um bom pedido de desculpas e alterações na direção nacional do PT. Essas alterações vão ter que ocorrer, mas na hora certa," diz Pomar.

Ele sugere que os responsáveis pelo que chama de Operação Tabajara, em referência à compra do dossiê, são militantes do ex-Campo Majoritário, corrente à qual pertencem Berzoini, o vice, Marco Aurélio Garcia, que assumiu a coordenação de campanha de Lula, assim como o ex-presidente José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

"Muitos que culparam o PT de SP votaram em Berzoini"

"Muitos que colocam a culpa no PT de São Paulo votaram em Berzoini e na sua chapa na eleição da direção partidária e comemoraram a vitória de Paulo Frateschi na disputa pela presidência do PT paulista", afirma o texto de Valter Pomar, que disputou a eleição de presidente do PT.

O secretário do PT criticou a "histeria antidemocrática" do que ainda classifica de direita - em sua visão, o PSDB e o PFL - mas também pediu que o diretório nacional do partido atue como fez o diretório de Mato Grosso, que suspendeu a filiação de Valdebran Padilha.

Os petistas envolvidos até agora são o ex-secretário do Ministério do Trabalho e amigo de Lula Oswaldo Bargas, o diretor do Banco Estadual de Santa Catarina (Besc) e churrasqueiro do presidente, Jorge Lorenzetti, o ex-assessor especial de Lula Freud Godoy, o direto do Banco do Brasil Expedito Veloso, além do próprio presidente do PT, Ricardo Berzoini.

Ao contrário do secretário-geral do partido, Raul Pont, que esta semana disse que a Operação Tabajara foi deflagrada pelo "grupo de sempre, de São Paulo, que comanda o partido", Pomar prefere não circunscrever o problema a uma região.

"O problema não é geográfico, mas político. Há, no PT, um grupo de dirigentes que não aprendeu nada com a crise de 2005", diz o texto.

Para ele, "o PT precisa concluir um ajuste de contas com os métodos, mas principalmente com as concepções políticas deste grupo".

É natural que muitos militantes queiram justiça imediata, um bom pedido de desculpas e alterações na direção nacional do PT

VALTER POMAR